"Porque o meu povo fez duas
maldades: a mim me deixaram, o manancial de águas vivas, e cavaram cisternas,
cisternas rotas, que não retêm as águas.” (Jeremias 2:13)
INTRODUÇÃO
O
cenário espiritual, político interno e externo de Judá nos dias de Jeremias era
muito calamitoso. O culto a Javé tornou-se negligenciado, era muito formal e
sem vida. Simplesmente chato. Nada tinha a ver com aqueles grandes momentos do
reinado de Davi e de reis piedosos que amavam ao Senhor. Como no tempo dos
juízes o povo voltou-se para os cultos cananeus de fertilidade, cheios de bebidas
fortes, danças sensuais, prostituição sagrada que se efetuava nos outeiros, debaixo
das árvores e defronte dos postes ídolos. Não será hoje um reavivamento do
paganismo de outrora? Pois em muitos lugares sob o frenesi de músicas
pornofônicas, das danças com apelos sensuais, e de atitudes lascivas, muitos se
entregam a devassidão. Parece que Jeremias viveu em nossa época, onde muitos
mais se assemelham aos animais em época de acasalamento: buscam amor, casual,
passageiro e sem compromisso posterior. Numa forma de substituir o amor divino,
que nos torna racionais, nos sara e dignifica gerando consequentemente paz e prosperidade
verdadeira.
I. ASPECTOS
DA APOSTASIA
1. Definição,
2.1-4.
Jeremias ao escrever o
capítulo dois é mergulhado no amor de Javé por Israel, conectado a esse
sentimento a sua pena escreve com força e profundo lirismo. Fala acerca do amor
e admiração de Deus por seu povo, carinhosamente chamando-o de “vide excelente”
2.21. O Senhor Deus faz questão de lembrar-se do amor jovial de Israel, que era
como o amor de uma noiva, que a fazia seguir a liderança divina prazerosamente,
2.2. Esse andar refletia “santidade para o Senhor” como as primícias da
colheita que eram a Ele dedicadas. Mas
com o tempo esse amor esfriou e praticaram a apostasia, isto é, abandonaram a
fé e os caminhos de Deus – deixaram o primeiro amor... Com tal apostasia
tornaram-se como vide degenerada e estranha aos propósitos divinos.
Lamentavelmente, muitos estão vivendo essa realidade, deixaram o verdadeiro
amor do Senhor, substituindo-o por um falso, arriscado e mundano.
2. Leviandade,
2.5.
A apostasia se refletia
na leviandade com que os crentes daquele tempo procediam, isto é, agiam
irrefletidamente. Esquecendo-se que tinham um compromisso anterior com o Senhor
Deus. Na linguagem do profeta, Deus se coloca numa condição tão humilde que os
convida a um julgamento reflexivo de suas atitudes divinas, para com os
próprios crentes. Haveria os seus pais achado em Javé alguma injustiça para que
eles chegassem a ponto de abandonarem os seus caminhos? Claro que não, pois
eles tinham o testemunho da fidelidade divina. Na Lei que tinham, na história
que conheciam, na terra que pisavam, na linhagem de que descendiam de maneira
que eles não haviam como contradizer isso. Quando refletimos somos confrontados
com a intocável fidelidade de Deus, de sorte que nada justifica a apostasia.
3. Ingratidão,
2.6-7.
Em algum momento pode
se questionar certas coisas achando motivos para a apostasia. Mas de verdade
nada há que possa convencer a própria consciência, ainda que falha e doente e
nem o próprio Deus os motivos das pessoas virarem as costas para Ele. Aliás,
esse abandono é ingratidão para com quem libertou da servidão, sustentou em
lugares impossíveis e protegeu dos inimigos devoradores, 2.3. Quem tentasse
contra a sua segurança não era tido por inocente, mas castigado por Deus.
Observe quanta ingratidão se pratica quando se afasta de Deus e de seus
caminhos, indo atrás de nulidades e coisas sem proveito, tornando-se nulo
também! Pois o Senhor Deus é o nosso bem querer, a razão da nossa existência e
não há completa satisfação fora dele.
II. UM BRADO CONTRA A APOSTASIA
1. Falar
em nome do Senhor, 2.2.
Jeremias foi
vocacionado para falar em nome do Senhor Deus, clamando em Jerusalém, capital
do reino de Judá e centro religioso também. Mas deveria falar exclusivamente a
Palavra do Senhor e transmitir o sentimento divino tal qual lhe havia sido
revelado, 2.2. Ele não deveria se portar como os demais profetas de sua época,
que procuravam ser politicamente corretos, mas não eram autênticos porta-vozes
do céu. Jeremias deveria ser boca de Deus a proclamar a tragédia futura que os
rondava. Atualmente temos muitos
pregadores que são ouvidos fervorosamente em todo lugar, pois são pregadores de
bênçãos e prosperidade. Porém, quando profetizarem da parte do Senhor, talvez não
tenham tantos convites assim. Pois, muitas portas se fecharão para a recreação continuar
em muitos arraiais evangélicos, e não para falar palavra profética da parte do
Senhor.
2.
O abandono de Jeová, 2.13
Jeremias um jovem
pregador na Jerusalém apóstata daquele tempo, tinha muitos ouvintes que achavam
interessante sua denúncia, até concordavam se fazendo passar por pessoas
piedosas que deveriam voltar-se para Deus. Mas negavam descaradamente que
haviam maculado as suas almas e praticado a prostituição cúltica, 2.23-24. Você
sabe como é, tal qual nos nossos dias muitos pisam e praticam onde não devem,
mas vivem com ares de santidade e zelo pentecostal. Entretanto, ao pregador foi
ordenado a denunciar o desvio espiritual deles como uma dupla maldade: “a mim
me deixaram” a apostasia propriamente dita; “e cavaram para si cisternas...
rotas que não retém as águas” – satisfação impura e passageira que os cultos e
modo pagãos de vida lhes ofereciam.
3.
O sentimento de prazer deles, 2.23-25.
Eles eram pérfidos, quer dizer, não
tinham vergonha de mentir na presença do homem de Deus. Então o profeta mostra
a evidência do pecado deles, os rastos deles no Vale de Hinon. Ou seja, um
lugar discreto, pouco visado e não muito distante dali. Mas, que ao
escurecer-se o pecador era de todo mundo e ninguém era de ninguém. Como os
vestígios estavam transparentes e nítidos, pois o caminho do pecador deixa
marcas e vestígios. Então eles se calaram e o profeta lhes aconselhou abandonarem
aquele caminho pecaminoso que os assemelhavam a animais, “dromedária nova” e “jumenta
no cio” [1] que só pensavam em sexo. Nessa hora
eles demonstraram o eu desviado dentro deles, o sentimento de prazer pecaminoso:
“Não, é inútil; porque amo os estranhos e após eles irei”. Tal como
acontece em festas de fim de ano, bailes funks onde vale tudo são ambientes que
muitos não conseguem se desvencilhar dessa idolatria.
4.
Um horrível flagrante na liderança, 2.8,26.
A antiga aliança era
tanto com o indivíduo, quanto com o reino de Judá. Pois o plano divino era que
a nação servisse de testemunho para as outras nações, para isso era necessário
que seus líderes fossem pessoas completamente comprometidas com Deus para que a
teocracia funcionasse de fato. Mas os líderes da nação foram flagrados em
prevaricação a começar pelo sacerdócio responsável pelo culto em Israel. Viviam
sem reconhecer Deus e presença, pois sua pergunta era: “onde está o Senhor?”.
Os pastores, “líderes executivos da nação”, praticaram crimes contra sua
própria administração colocando os seus interesses acima da vontade de Deus. A
espada desses homens devorou os profetas do Senhor, como se faz hoje em muitos
países e certos ministérios evangélicos que funcionam como pequenos Estados,
sem misericórdia e nenhum temor a Deus. Eles nem consideram isso crime, pois
eles mesmos se consideram deuses com seus próprios profetas de Baal, que vivem
ali comendo das migalhas que caem das mesas desse “rei”. Literalmente o
espírito diabólico impera ali. E ai de quem falar o contrário, cisterna, fome,
pancadaria e se isso não resolver... Morte aos profetas do Senhor.
III.
AS GRAVES PRÁTICAS RESULTANTES DA APOSTASIA
As famílias da Casa de
Judá se afastaram dos caminhos do Senhor, pois além de acharem a vida religiosa
chata enxergavam-na como uma prisão psicológica e comportamental. Eles se autorreprimiam
por algum tempo com relação ao pecado e a lascívia, como quem faz uma dieta
alimentar por algum tempo, mas não consegue conter a voluptuosidade da alma. E
aí quando voltam a comer, isto é, a pecar, o fazem desenfreadamente procedendo
pior que antes. Vede que além dos pecados expostos acima, eles diversificavam
ainda mais a sua prática como veremos a seguir:
1.
O tempo de
aperto vem se aproximando, 2.27. O juízo deles estava afetado quanto a
receber as bênçãos de Deus, imaginavam que mesmo que se andassem com Baal e
Astarotes nos cultos da fertilidade, e quando estivessem em aperto poderiam
clamar a Deus que Ele também os ouviria. Queriam servir aos deuses da
fertilidade com seus desejos e corpos, mas no momento de aperto suplicariam a
Javé pedindo por socorro. Porém, Ele não os responderia, pois queria que eles
entendessem que deveriam serví-lo em todo tempo: na paz e no aperto; na
prosperidade e na escassez. Para que Ele pudesse estar com eles e livrá-los,
quando chegasse o dia mal que já se aproximava. Todavia, não se apercebiam
disso.
2.
Sangue das
almas dos inocentes, 2.34.
Como
eles se entregavam às ocultas a prostituição nos outeiros e vales, com isso
muitas mulheres se engravidavam. Como não queriam aquela gravidez ou o filho
por ser fruto de mero prazer descompromissado, elas praticavam o aborto que era
uma violência aos inocentes e ao próprio corpo. Mas como poderiam fazer isso?
Faziam os abortos principalmente tomando chás e substâncias abortivas, mas também
queimavam os recém nascidos de forma cultual no fogo, confira a seriedade dessas
denúncias proféticas em 2Rs 24.4; Jr 7.31; 19.5,6. Vemos, portanto, quão antiga
é a prática do aborto e da violência. Como violência gera violência, conseqüêntemente,
aquela sociedade foi se tornando mais e mais violenta e injusta com os pobres e
inocentes. Vemos por meio do texto bíblico, de sabedoria milenar as causas da
violência na nossa própria sociedade. A mera legalização de um ato pecaminoso
perante a mesma, não nos isenta diante de Deus e da nossa consciência. Mesmo
que as pessoas se coloquem a favor de um pecador, mas o que adiantará se Deus
estiver contra ele?
3.
Tornaram-se
cínicos, 2.35.
Quando confrontados pela palavra profética negavam que
estavam desviados, negavam que andavam em caminhos sórdidos. Veja a expressão
deles, “eu estou inocente” e acrescentam depois, “não pequei”. Negar o fato não
o apaga, e ainda mais insulta a Deus, pois é tratá-lo como se fosse mentiroso e
falso acusador. João tratou desse mesmo problema sério de omissão entre a
assembléia dos crentes, pois muitos negando seu pecado só complicam a sua
situação, 1Jo 1.8-10. Deus deseja mergulhar os faltosos em seu oceano de amor e
graça, mas quando este admite o seu pecar. Entretanto, quando se usa de cinismo
o Senhor Deus se ira e promete, “entrarei em juízo contigo”. Vede o que o
Senhor Jesus disse também a Laodicéia: “Eu repreendo e castigo a todos quanto
amo”, Ap 3.19.
IV.
QUAIS SÃO OS PERIGOS DA APOSTASIA
É claro que ao longo do livro de
Jeremias, ele trata com muita seriedade e senso de urgência acerca de vários
outros perigos decorrentes do desvio espiritual. Essa palavra é hoje tanto uma
advertência a permanecermos firmes no Senhor, quanto uma reflexão para aqueles
que se desviaram espiritualmente. A fim de que se lembrem das consequências que
terão em decorrência dessa escolha.
1.
Sofrer as
consequências da própria apostasia, 2.19.
O
próprio desvio em si é tratado por Jeremias como “malícia”, no hebraico ra, e tem o sentido
de coisa ruim, maligna. Outra expressão utilizada por ele é apostasia, no
hebraico é meshubah, e signfica afastamento, retorno e abandono.
Em grego o termo apostasia (apostasia), foi transliterado para o português e tem o mesmo sentido de separação,
deserção, abandono. Voltando-nos para a palavra de Jeremias essa atitude de
desvio espiritual teria como consequências naturais em si os castigos
e duras provações que em breve se manifestariam por não temerem a
Deus. Vede quão sérias são as advertências das consequências do desvio
espiritual íntimo e público, que se reflete na maneira de pecar intencional e
desenfreadamente, Rm 1.27.
2.
Sofrer o
juízo de Deus, 2.35b.
Embora
Deus tenha voluntária e humildemente se submetido ao juízo da nação de Judá,
para que ele visse o tamanho da ingratidão, 2.5. O próprio Javé promete
demandar, contender como que em um tribunal, “pleitearei convosco”, 2.9.
Portanto, como não teriam justificativas para o desvio espiritual, logo
sofreriam o juizo de Deus. Até porque estavam sendo pérfidos e impúdicos pelo
fato de negarem o pecado na presença de Deus e de seu mensageiro, 2.35.
3. Sofrer humilhação, 2.36.
Como
eles não queriam submeter às decisões políticas ao Senhor Deus, em breve seriam
uma vez mais humilhados. Segundo o texto bíblico, a Nação de Judá antes sofreu
vergonha através da Assíria, agora sofreria por causa da obstinação seria
humilhada pelo Egito. “O orgulho é a raiz que alimenta todos os pecados”,
impedindo da pessoa ou mesmo uma nação ver a sua fragilidade, vacilações e
erros. Vede que o pecado do desvio espiritual era coletivo e em consequência do
orgulho nacional, Deus trataria coletivamente humilhando toda a nação, mas eles
não conseguiam enxergar isso. Às vezes Deus está tratando com o orgulho e a
jactância removendo as bases que sustenta uma pessoa num determinado pedestal
pecaminoso. Mesmo assim a pessoa não reconhece como um tratamento benéfico para
a sua vida. Forças maiores são usadas para nos humilhar a fim de aprendermos a
andarmos humildes com Deus, mas nos recusamos e é aí que outro castigo pior
sucede como veremos adiante.
4. Sofrer a rejeição de Deus, 2.37.
A chamada confissão positiva ou mesmo
o positivismo bíblico de nada adianta, quando não se vive na presença de Deus e
se comporta como um servo dele. De antemão o profeta avisa que no momento do
aperto eles poderiam clamar, mas o Senhor Deus não os atenderia. Eles poderiam considerar-se
confiantes em Javé, mas de nada adiantaria, “porque o Senhor rejeitou as tuas
confianças, e não prosperarás com elas”. Esse princípio divino de agir é muito
simples de entender, pois se se ama a Deus, anda com Ele e guarda a sua Palavra
terá ampla confiança que suas orações serão ouvidas, seus caminhos abençoados e
desfrutará da prosperidade contida em suas promessas. Mas se alguém rejeita a
Deus, pratica iniqüidade fica impedido de tudo isso que Ele oferece. O próprio
salmista entendendo isso escreveu: “Se eu atender à iniquidade no meu coração,
o Senhor não me ouvirá”, Sl 66.18.
CONCLUSÃO
O amor divino é refletido nas palavras do
profeta Jeremias, apesar das severas advertências, suas palavras são como setas
endereçadas ao coração de seus ouvintes. Suas expressões são carregadas de
emoções do sentimento de Deus, refletem o pecador como um objeto do desejo
divino, e as suas promessas uma prova de amor e do pensamento verdadeiro que
tem por ele. Javé amorosamente diz: “Tu te maculaste com muitos amantes, mas
ainda assim, torna para mim, diz o Senhor”, Jr. 3.1. Deus não nos deixa de amar
por nos tornarmos rebeldes, mas Ele é justo e para o nosso bem retém suas
bênçãos.
O convite ao
retorno expressado “torna para mim,
diz o Senhor”, Jr 3.1c. Exprime o amor, o desejo e não vingança, como alguns
poderiam imaginar. O desvio espiritual ficou evidente nas devassidões e na
violência generalizada, refletindo na economia e prosperidade da nação. Pois o
Senhor ficara irado e regulou a natureza contra eles, mas isso foi apenas por
algum tempo para que refletissem sobre o que andavam fazendo. A fim de que o
pecador se arrependesse e voltasse para Ele. Afinal, o Todo Poderoso foi um
marido traído, pela sua própria eleita, ela o traiu e se maculou com muitos
amantes, mas ainda assim o seu amor é tão grandioso que ele promete restaurá-la
a antiga posição, esquecendo-se das coisas que para trás ficaram, 3.14. O
próprio Javé ofendido promete que se o seu povo rebelde voltar para ele, ele os
curará de suas rebeliões que enfermam as suas almas, 3.22.
[1]Sociedade Bíblica do Brasil.
2003; 2005. Almeida Revista e Atualizada - Com Números de Strong .
Sociedade Bíblica do Brasil
que o nosso Deus continue a lhe inspirar! um grande abraço caro professor...
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