segunda-feira, 4 de março de 2013

OS PERIGOS DA APOSTASIA



Texto áureo:
"Porque o meu povo fez duas maldades: a mim me deixaram, o manancial de águas vivas, e cavaram cisternas, cisternas rotas, que não retêm as águas. (Jeremias 2:13)



INTRODUÇÃO

O cenário espiritual, político interno e externo de Judá nos dias de Jeremias era muito calamitoso. O culto a Javé tornou-se negligenciado, era muito formal e sem vida. Simplesmente chato. Nada tinha a ver com aqueles grandes momentos do reinado de Davi e de reis piedosos que amavam ao Senhor. Como no tempo dos juízes o povo voltou-se para os cultos cananeus de fertilidade, cheios de bebidas fortes, danças sensuais, prostituição sagrada que se efetuava nos outeiros, debaixo das árvores e defronte dos postes ídolos. Não será hoje um reavivamento do paganismo de outrora? Pois em muitos lugares sob o frenesi de músicas pornofônicas, das danças com apelos sensuais, e de atitudes lascivas, muitos se entregam a devassidão. Parece que Jeremias viveu em nossa época, onde muitos mais se assemelham aos animais em época de acasalamento: buscam amor, casual, passageiro e sem compromisso posterior. Numa forma de substituir o amor divino, que nos torna racionais, nos sara e dignifica gerando consequentemente paz e prosperidade verdadeira.

I.    ASPECTOS DA APOSTASIA

1.  Definição, 2.1-4.  

Jeremias ao escrever o capítulo dois é mergulhado no amor de Javé por Israel, conectado a esse sentimento a sua pena escreve com força e profundo lirismo. Fala acerca do amor e admiração de Deus por seu povo, carinhosamente chamando-o de “vide excelente” 2.21. O Senhor Deus faz questão de lembrar-se do amor jovial de Israel, que era como o amor de uma noiva, que a fazia seguir a liderança divina prazerosamente, 2.2. Esse andar refletia “santidade para o Senhor” como as primícias da colheita que eram a Ele dedicadas.  Mas com o tempo esse amor esfriou e praticaram a apostasia, isto é, abandonaram a fé e os caminhos de Deus – deixaram o primeiro amor... Com tal apostasia tornaram-se como vide degenerada e estranha aos propósitos divinos. Lamentavelmente, muitos estão vivendo essa realidade, deixaram o verdadeiro amor do Senhor, substituindo-o por um falso, arriscado e mundano.

2.  Leviandade, 2.5.

A apostasia se refletia na leviandade com que os crentes daquele tempo procediam, isto é, agiam irrefletidamente. Esquecendo-se que tinham um compromisso anterior com o Senhor Deus. Na linguagem do profeta, Deus se coloca numa condição tão humilde que os convida a um julgamento reflexivo de suas atitudes divinas, para com os próprios crentes. Haveria os seus pais achado em Javé alguma injustiça para que eles chegassem a ponto de abandonarem os seus caminhos? Claro que não, pois eles tinham o testemunho da fidelidade divina. Na Lei que tinham, na história que conheciam, na terra que pisavam, na linhagem de que descendiam de maneira que eles não haviam como contradizer isso. Quando refletimos somos confrontados com a intocável fidelidade de Deus, de sorte que nada justifica a apostasia.

3.  Ingratidão, 2.6-7.

Em algum momento pode se questionar certas coisas achando motivos para a apostasia. Mas de verdade nada há que possa convencer a própria consciência, ainda que falha e doente e nem o próprio Deus os motivos das pessoas virarem as costas para Ele. Aliás, esse abandono é ingratidão para com quem libertou da servidão, sustentou em lugares impossíveis e protegeu dos inimigos devoradores, 2.3. Quem tentasse contra a sua segurança não era tido por inocente, mas castigado por Deus. Observe quanta ingratidão se pratica quando se afasta de Deus e de seus caminhos, indo atrás de nulidades e coisas sem proveito, tornando-se nulo também! Pois o Senhor Deus é o nosso bem querer, a razão da nossa existência e não há completa satisfação fora dele.


II.    UM BRADO CONTRA A APOSTASIA

1.    Falar em nome do Senhor, 2.2.

Jeremias foi vocacionado para falar em nome do Senhor Deus, clamando em Jerusalém, capital do reino de Judá e centro religioso também. Mas deveria falar exclusivamente a Palavra do Senhor e transmitir o sentimento divino tal qual lhe havia sido revelado, 2.2. Ele não deveria se portar como os demais profetas de sua época, que procuravam ser politicamente corretos, mas não eram autênticos porta-vozes do céu. Jeremias deveria ser boca de Deus a proclamar a tragédia futura que os rondava.  Atualmente temos muitos pregadores que são ouvidos fervorosamente em todo lugar, pois são pregadores de bênçãos e prosperidade. Porém, quando profetizarem da parte do Senhor, talvez não tenham tantos convites assim. Pois, muitas portas se fecharão para a recreação continuar em muitos arraiais evangélicos, e não para falar palavra profética da parte do Senhor.

2.    O abandono de Jeová, 2.13

Jeremias um jovem pregador na Jerusalém apóstata daquele tempo, tinha muitos ouvintes que achavam interessante sua denúncia, até concordavam se fazendo passar por pessoas piedosas que deveriam voltar-se para Deus. Mas negavam descaradamente que haviam maculado as suas almas e praticado a prostituição cúltica, 2.23-24. Você sabe como é, tal qual nos nossos dias muitos pisam e praticam onde não devem, mas vivem com ares de santidade e zelo pentecostal. Entretanto, ao pregador foi ordenado a denunciar o desvio espiritual deles como uma dupla maldade: “a mim me deixaram” a apostasia propriamente dita; “e cavaram para si cisternas... rotas que não retém as águas” – satisfação impura e passageira que os cultos e modo pagãos de vida lhes ofereciam.

3.    O sentimento de prazer deles, 2.23-25.

Eles eram pérfidos, quer dizer, não tinham vergonha de mentir na presença do homem de Deus. Então o profeta mostra a evidência do pecado deles, os rastos deles no Vale de Hinon. Ou seja, um lugar discreto, pouco visado e não muito distante dali. Mas, que ao escurecer-se o pecador era de todo mundo e ninguém era de ninguém. Como os vestígios estavam transparentes e nítidos, pois o caminho do pecador deixa marcas e vestígios. Então eles se calaram e o profeta lhes aconselhou abandonarem aquele caminho pecaminoso que os assemelhavam a animais, “dromedária nova” e “jumenta no cio” [1] que só pensavam em sexo. Nessa hora eles demonstraram o eu desviado dentro deles, o sentimento de prazer pecaminoso: “Não, é inútil; porque amo os estranhos e após eles irei”. Tal como acontece em festas de fim de ano, bailes funks onde vale tudo são ambientes que muitos não conseguem se desvencilhar dessa idolatria.
  
4.    Um horrível flagrante na liderança, 2.8,26.

A antiga aliança era tanto com o indivíduo, quanto com o reino de Judá. Pois o plano divino era que a nação servisse de testemunho para as outras nações, para isso era necessário que seus líderes fossem pessoas completamente comprometidas com Deus para que a teocracia funcionasse de fato. Mas os líderes da nação foram flagrados em prevaricação a começar pelo sacerdócio responsável pelo culto em Israel. Viviam sem reconhecer Deus e presença, pois sua pergunta era: “onde está o Senhor?”. Os pastores, “líderes executivos da nação”, praticaram crimes contra sua própria administração colocando os seus interesses acima da vontade de Deus. A espada desses homens devorou os profetas do Senhor, como se faz hoje em muitos países e certos ministérios evangélicos que funcionam como pequenos Estados, sem misericórdia e nenhum temor a Deus. Eles nem consideram isso crime, pois eles mesmos se consideram deuses com seus próprios profetas de Baal, que vivem ali comendo das migalhas que caem das mesas desse “rei”. Literalmente o espírito diabólico impera ali. E ai de quem falar o contrário, cisterna, fome, pancadaria e se isso não resolver... Morte aos profetas do Senhor.


III. AS GRAVES PRÁTICAS RESULTANTES DA APOSTASIA

As famílias da Casa de Judá se afastaram dos caminhos do Senhor, pois além de acharem a vida religiosa chata enxergavam-na como uma prisão psicológica e comportamental. Eles se autorreprimiam por algum tempo com relação ao pecado e a lascívia, como quem faz uma dieta alimentar por algum tempo, mas não consegue conter a voluptuosidade da alma. E aí quando voltam a comer, isto é, a pecar, o fazem desenfreadamente procedendo pior que antes. Vede que além dos pecados expostos acima, eles diversificavam ainda mais a sua prática como veremos a seguir:

1.    O tempo de aperto vem se aproximando, 2.27. O juízo deles estava afetado quanto a receber as bênçãos de Deus, imaginavam que mesmo que se andassem com Baal e Astarotes nos cultos da fertilidade, e quando estivessem em aperto poderiam clamar a Deus que Ele também os ouviria. Queriam servir aos deuses da fertilidade com seus desejos e corpos, mas no momento de aperto suplicariam a Javé pedindo por socorro. Porém, Ele não os responderia, pois queria que eles entendessem que deveriam serví-lo em todo tempo: na paz e no aperto; na prosperidade e na escassez. Para que Ele pudesse estar com eles e livrá-los, quando chegasse o dia mal que já se aproximava. Todavia, não se apercebiam disso.

2.    Sangue das almas dos inocentes, 2.34.

Como eles se entregavam às ocultas a prostituição nos outeiros e vales, com isso muitas mulheres se engravidavam. Como não queriam aquela gravidez ou o filho por ser fruto de mero prazer descompromissado, elas praticavam o aborto que era uma violência aos inocentes e ao próprio corpo. Mas como poderiam fazer isso? Faziam os abortos principalmente tomando chás e substâncias abortivas, mas também queimavam os recém nascidos de forma cultual no fogo, confira a seriedade dessas denúncias proféticas em 2Rs 24.4; Jr 7.31; 19.5,6. Vemos, portanto, quão antiga é a prática do aborto e da violência. Como violência gera violência, conseqüêntemente, aquela sociedade foi se tornando mais e mais violenta e injusta com os pobres e inocentes. Vemos por meio do texto bíblico, de sabedoria milenar as causas da violência na nossa própria sociedade. A mera legalização de um ato pecaminoso perante a mesma, não nos isenta diante de Deus e da nossa consciência. Mesmo que as pessoas se coloquem a favor de um pecador, mas o que adiantará se Deus estiver contra ele?

3.    Tornaram-se cínicos, 2.35.

Quando confrontados pela palavra profética negavam que estavam desviados, negavam que andavam em caminhos sórdidos. Veja a expressão deles, “eu estou inocente” e acrescentam depois, “não pequei”. Negar o fato não o apaga, e ainda mais insulta a Deus, pois é tratá-lo como se fosse mentiroso e falso acusador. João tratou desse mesmo problema sério de omissão entre a assembléia dos crentes, pois muitos negando seu pecado só complicam a sua situação, 1Jo 1.8-10. Deus deseja mergulhar os faltosos em seu oceano de amor e graça, mas quando este admite o seu pecar. Entretanto, quando se usa de cinismo o Senhor Deus se ira e promete, “entrarei em juízo contigo”. Vede o que o Senhor Jesus disse também a Laodicéia: “Eu repreendo e castigo a todos quanto amo”, Ap 3.19.


IV. QUAIS SÃO OS PERIGOS DA APOSTASIA

É claro que ao longo do livro de Jeremias, ele trata com muita seriedade e senso de urgência acerca de vários outros perigos decorrentes do desvio espiritual. Essa palavra é hoje tanto uma advertência a permanecermos firmes no Senhor, quanto uma reflexão para aqueles que se desviaram espiritualmente. A fim de que se lembrem das consequências que terão em decorrência dessa escolha.

1.    Sofrer as consequências da própria apostasia, 2.19.

O próprio desvio em si é tratado por Jeremias como “malícia”, no hebraico ra, e tem o sentido de coisa ruim, maligna. Outra expressão utilizada por ele é apostasia, no hebraico é meshubah, e signfica afastamento, retorno e abandono. Em grego o termo apostasia (apostasia), foi transliterado para o português e tem o mesmo sentido de separação, deserção, abandono. Voltando-nos para a palavra de Jeremias essa atitude de desvio espiritual teria como consequências naturais em si os castigos e duras provações que em breve se manifestariam por não temerem a Deus. Vede quão sérias são as advertências das consequências do desvio espiritual íntimo e público, que se reflete na maneira de pecar intencional e desenfreadamente, Rm 1.27.


2.    Sofrer o juízo de Deus, 2.35b.

Embora Deus tenha voluntária e humildemente se submetido ao juízo da nação de Judá, para que ele visse o tamanho da ingratidão, 2.5. O próprio Javé promete demandar, contender como que em um tribunal, “pleitearei convosco”, 2.9. Portanto, como não teriam justificativas para o desvio espiritual, logo sofreriam o juizo de Deus. Até porque estavam sendo pérfidos e impúdicos pelo fato de negarem o pecado na presença de Deus e de seu mensageiro, 2.35.

3.    Sofrer humilhação, 2.36.

Como eles não queriam submeter às decisões políticas ao Senhor Deus, em breve seriam uma vez mais humilhados. Segundo o texto bíblico, a Nação de Judá antes sofreu vergonha através da Assíria, agora sofreria por causa da obstinação seria humilhada pelo Egito. “O orgulho é a raiz que alimenta todos os pecados”, impedindo da pessoa ou mesmo uma nação ver a sua fragilidade, vacilações e erros. Vede que o pecado do desvio espiritual era coletivo e em consequência do orgulho nacional, Deus trataria coletivamente humilhando toda a nação, mas eles não conseguiam enxergar isso. Às vezes Deus está tratando com o orgulho e a jactância removendo as bases que sustenta uma pessoa num determinado pedestal pecaminoso. Mesmo assim a pessoa não reconhece como um tratamento benéfico para a sua vida. Forças maiores são usadas para nos humilhar a fim de aprendermos a andarmos humildes com Deus, mas nos recusamos e é aí que outro castigo pior sucede como veremos adiante.


4.    Sofrer a rejeição de Deus, 2.37.

A chamada confissão positiva ou mesmo o positivismo bíblico de nada adianta, quando não se vive na presença de Deus e se comporta como um servo dele. De antemão o profeta avisa que no momento do aperto eles poderiam clamar, mas o Senhor Deus não os atenderia. Eles poderiam considerar-se confiantes em Javé, mas de nada adiantaria, “porque o Senhor rejeitou as tuas confianças, e não prosperarás com elas”. Esse princípio divino de agir é muito simples de entender, pois se se ama a Deus, anda com Ele e guarda a sua Palavra terá ampla confiança que suas orações serão ouvidas, seus caminhos abençoados e desfrutará da prosperidade contida em suas promessas. Mas se alguém rejeita a Deus, pratica iniqüidade fica impedido de tudo isso que Ele oferece. O próprio salmista entendendo isso escreveu: “Se eu atender à iniquidade no meu coração, o Senhor não me ouvirá”, Sl 66.18.


CONCLUSÃO

O amor divino é refletido nas palavras do profeta Jeremias, apesar das severas advertências, suas palavras são como setas endereçadas ao coração de seus ouvintes. Suas expressões são carregadas de emoções do sentimento de Deus, refletem o pecador como um objeto do desejo divino, e as suas promessas uma prova de amor e do pensamento verdadeiro que tem por ele. Javé amorosamente diz: “Tu te maculaste com muitos amantes, mas ainda assim, torna para mim, diz o Senhor”, Jr. 3.1. Deus não nos deixa de amar por nos tornarmos rebeldes, mas Ele é justo e para o nosso bem retém suas bênçãos.
O convite ao retorno expressado “torna para mim, diz o Senhor”, Jr 3.1c. Exprime o amor, o desejo e não vingança, como alguns poderiam imaginar. O desvio espiritual ficou evidente nas devassidões e na violência generalizada, refletindo na economia e prosperidade da nação. Pois o Senhor ficara irado e regulou a natureza contra eles, mas isso foi apenas por algum tempo para que refletissem sobre o que andavam fazendo. A fim de que o pecador se arrependesse e voltasse para Ele. Afinal, o Todo Poderoso foi um marido traído, pela sua própria eleita, ela o traiu e se maculou com muitos amantes, mas ainda assim o seu amor é tão grandioso que ele promete restaurá-la a antiga posição, esquecendo-se das coisas que para trás ficaram, 3.14. O próprio Javé ofendido promete que se o seu povo rebelde voltar para ele, ele os curará de suas rebeliões que enfermam as suas almas, 3.22.



[1]Sociedade Bíblica do Brasil. 2003; 2005. Almeida Revista e Atualizada - Com Números de Strong . Sociedade Bíblica do Brasil

Um comentário:

  1. que o nosso Deus continue a lhe inspirar! um grande abraço caro professor...

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