quarta-feira, 6 de março de 2013


A Mensagem Ousada de um Vocacionado



Leitura Bíblica

Jeremias 7:1-11

1 Palavra que da parte do Senhor foi dita a Jeremias: 2 Põe-te à porta da Casa do Senhor, e proclama ali esta palavra, e dize: Ouvi a palavra do Senhor, todos de Judá, vós, os que entrais por estas portas, para adorardes ao Senhor. 3 Assim diz o Senhor dos Exércitos, o Deus de Israel: Emendai os vossos caminhos e as vossas obras, e eu vos farei habitar neste lugar. 4 Não confieis em palavras falsas, dizendo: Templo do Senhor, templo do Senhor, templo do Senhor é este. 5 Mas, se deveras emendardes os vossos caminhos e as vossas obras, se deveras praticardes a justiça, cada um com o seu próximo; 6 se não oprimirdes o estrangeiro, e o órfão, e a viúva, nem derramardes sangue inocente neste lugar, nem andardes após outros deuses para vosso próprio mal, 7 eu vos farei habitar neste lugar, na terra que dei a vossos pais, desde os tempos antigos e para sempre.
8 Eis que vós confiais em palavras falsas, que para nada vos aproveitam. 9 Que é isso? Furtais e matais, cometeis adultério e jurais falsamente, queimais incenso a Baal e andais após outros deuses que não conheceis, 10 e depois vindes, e vos pondes diante de mim nesta casa que se chama pelo meu nome, e dizeis: Estamos salvos; sim, só para continuardes a praticar estas abominações! 11 Será esta casa que se chama pelo meu nome um covil de salteadores aos vossos olhos? Eis que eu, eu mesmo, vi isto, diz o Senhor.


INTRODUÇÃO

Caros irmãos devemos entender que tendo em vista a situação moral e espiritual do povo de Judá, o profeta Jeremias uma vez mais foi convocado para uma pesada missão. A de proclamar ousadamente a Palavra de Deus na entrada da porta externa do Templo em Jerusalém. Que se tornou grande símbolo religioso e orgulho judaico naqueles tempos. Pois apesar de todo o ofício religioso que ali havia, o culto tornou-se muito formal e ritual. Jeremias, como pregador, foi chamado a anunciar o conselho de Deus e ao mesmo tempo, combater as falsas convicções que havia entre o seu povo. Isso nos faz lembrar Jesus que se postou várias vezes também a porta do templo pregando-lhes ousadamente a Palavra, inclusive profetizando a queda do templo: “não ficará aqui pedra sobre pedra”.

I.    JEREMIAS É CHAMADO A PREGAR NA PORTA DO TEMPLO

O orador teve uma missão nada convencional, pregar na porta do templo? E por quê?

1.    Todos de Judá, 7.2.

Jeremias foi orientado a dirigir a palavra profética a todos de Judá. O Templo em Jerusalém era o coração religioso de Judá, logo se postar a porta externa do mesmo, representava estar num lugar estratégico que todos pudessem ouvi-lo nitidamente. Mas todos quem? Os cidadãos comuns, os anciãos do povo, os sacerdotes, o sumo-sacerdote, e até mesmo o rei, portanto todos seriam capazes de ouvi-lo anunciar o desígnio de Javé. Vejam professores que a verdadeira mensagem profética, quando uma nação está desviada deve ser inclusiva e dirigida a todos indiscriminadamente. Por outro lado, o anunciador da Palavra de Deus entende os riscos que corre, mesmo assim não deve abrandar ou inflamar a mensagem e sim, transmiti-la na atitude e sentimento correto por obediência a Deus. O verdadeiro profeta respeita as autoridades, mas não lhes priva da Palavra do Senhor por temor a Ele, pois eles também são homens.

2.    Todos os que entram para adorar

Observe que Jeremias faz questão de chamar a atenção de todos, mas ele fala algo que chega ser quase uma redundância. Ou pelo menos uma coisa muito lógica: “Ouvi a palavra do Senhor... vós os que entrais por estas portas para adorardes...”. Logo fica claro que a vida religiosa ali existente era intensa em torno da adoração a Javé. Mas por outro lado, de verdade o povo estava distante de Deus apesar de entrar em seu Templo; não eram sinceros de coração, apesar de pronunciarem o seu amor por Javé, o Deus da aliança. Eles entravam no Templo para adorar, mas Javé não era centro da vida deles, não participava da rotina deles. Agindo assim tornaram-se vítimas de concepções erradas apesar de se considerarem adoradores de Deus. É um grave perigo estarmos tão envolvidos nas atividades religiosas e de fato não sermos considerados adoradores sinceros. Estarmos ativamente agindo no *culto cantando, administrando ou pregando imaginando que Deus está recebendo a honra, mas de fato não está. Ao contrário, está considerando essa casa de adoração uma caverna de salteadores, praticantes da simonia, 7.11.

3.    Adoração rejeitada

Quando Deus deixa de ser o centro da nossa vida, isto é, Ele fica de fora dos nossos planos, dos nossos prazeres, da nossa rotina, das nossas dores e mesmo virtudes. O que fizermos para Ele fica sem valor e nossa adoração é rejeitada. O termo “adorar” aqui empregado no hebraico é shachah e significa inclinar-se, prostrar-se, 7.2. Deus não queria que eles se prostrassem apenas com o corpo e ficassem em contemplação. Mas desejava que eles o servissem com amor de todo o coração, com toda força e com todo o pensamento, como disse Moisés, Dt 6.5. A lógica de Deus era: se não me servem com um coração inteiro, essa adoração não tem valor para mim, nem mesmo a casa de culto construída para mim.


II.    A MENSAGEM DE JEREMIAS

Apesar da Nação de Judá considerar-se monoteísta todos sabiam das palavras proféticas partindo do espírito de Baal, o deus masculino da fertilidade. Cuja adoração se permitiram seduzir. Agora, no entanto, o povo espiritualmente desviado teria que ouvir a voz do verdadeiro Deus.

1.    Quem diz verdadeiramente

Jeremias recebe ordens de profetizar da parte de Javé: “Ouvi a palavra do Senhor”, a palavra traduzida por Senhor em hebraico é Javé, aquele que é ou que existe por si mesmo. Este é o nome pelo qual Deus se revelou a Moisés, portanto o Deus da aliança. Note que apesar do povo estar desviado espiritualmente Deus se apresenta, como o Deus da aliança. Mas ao longo da mensagem profética há mais duas designações de Deus: primeiro, o profeta se apresenta como Javé ou Jeová dos Exércitos (hb. tsabá) que indica que Ele é dos Exércitos celestiais ou vai adiante dos Exércitos celestiais. Segundo, o Deus de Israel, 7.3. A palavra Deus aí é Elhoym, é o termo que é usado para Deus na criação do universo por Moisés, Gn 1. É Deus no plural, mas tem o sentido de Deus supremo em força e poder, o Todo Poderoso. Ele é o Todo Poderoso que prevalece (Israel), que também nos faz lembrar o patriarca Jacó. Visto estes termos, notemos a magistralidade com que o profeta apresenta o Autor da mensagem, pois à medida que fala busca impressionar seus ouvintes falando acerca de um Deus tão grandioso e criador, mas que inclina para lhes falar severamente por meio de Jeremias.

2.    Melhorai

Deus desejava que eles melhorassem os seus caminhos, isto é, que tomassem prazer em fazer a sua vontade. Que abandonassem o que lhe era desagradável, mas que praticassem a justiça para com o próximo, 7.5. Não somente isso, mas deixassem de oprimir o órfão, a viúva e o estrangeiro, que era a classe desfavorecida daquela época. Apesar de a Lei Mosaica ampará-los, está claro que esse conteúdo havia sido relegado ao esquecimento pelas classes dominantes de Judá, 7.6. Além do mais, a opressão chegava a certos níveis que muito sangue inocente era derramado e ainda andavam após outros deuses, tais como Baal e Astarote, 7.7. Igualmente, havia uma quebra generalizada dos mandamentos de Deus, 7.9. Vejam que a mensagem de Deus atingia diretamente ao comportamento do povo em geral, tanto a nobres quanto ao cidadão comum. Deus requeria que eles emendassem o caminho deles para que eles desfrutassem de suas promessas, tais como: continuar habitar naquele lugar, 7.3,7. Emendar aqui é corrigir-se das suas deformações, como quem quebra um osso, mas tem que dolorosamente fazê-lo voltar ao lugar, como fazem os ortopedistas a ortopraxia aos pacientes. Veja que Deus exige que seu povo faça a ortopraxia em si mesmo, e através disso se cure, e goze das suas promessas.

3.    Consequência da obstinação

Não há como suavizar a mensagem profética, posto que o povo esteja à porta da destruição, por causa dos seus caminhos tortuosos. O que Deus exige de seu povo é uma medida dolorosa de correção como vimos acima, para que eles literalmente, pelo menos sobrevivessem ali. Pois se levantava uma superpotência inimiga que, caso não atendessem a Deus seria um duro castigo para eles. Como de fato acabou acontecendo. O perigo do pecado está no prazer viciante que ele causa, o afastamento nem sempre perceptível da presença de Deus e a teimosia do coração em relação a sua vontade afastando-o completamente. Senhores professores cuidem de vocês mesmos e de seus alunos, aquele que está em pé cuide-se para que não caia, pois as consequências são inevitáveis. Falo solenemente que, para aqueles crentes não houve mais remédio, não houve oração capaz, nem a multiplicação de sacrifícios, apenas a rejeição divina, pois não se emendaram jamais, confira: Jr 7.16, 21,27. Voltemos aos combates de Jeremias.


III. JEREMIAS COMBATE A TEOLOGIA DO TEMPLO

Jeremias de frente a porta do templo combate os falsos conceitos disseminados em seus dias. Vemos que ao agir assim, ele se porta como um apologeta da verdade. Não raro o povo se apega a vãs filosofias, heresias ou erros teológicos justificando um proceder. Ele não procurou ser um homem politicamente correto, apenas um arauto de Deus.

1.    Falsas concepções e falsas soluções, v.4,8.

Uma falsa concepção se alastrou entre o povo naqueles dias, pois eles repetiam “Templo” como se fosse uma fórmula mágica ou uma espécie de positivismo. Isso significava que eles estavam depositando a confiança no Templo e não em Deus. Estavam fazendo do Templo de Salomão um grande amuleto, como se este possuísse poderes mágicos para livrá-los da grande tragédia que estava para se abater sobre eles. O que não aconteceu, mas acerca disso foram advertidos. Embora o Templo fosse o depositário da arca do Senhor, da glória de Javé que no passado havia se manifestado, o crer que o Templo em si os salvaria era uma forma sutil de continuarem pecando. Vemos que essas práticas acontecem ainda hoje, quando muitos se apegam a objetos simbólicos tornando-os fetiches para solucionar os seus problemas, isso em pleno século XXI. Muitos recorrem a determinados ícones nesse país afora em busca de cura, felicidade, casamento, mas não buscam a Deus que está tão perto e é a felicidade de todos nós. Pois buscar ao Todo Poderoso tem as suas implicações vitais.


2.    Verdadeira concepção e verdadeira solução, vv.5-7.

A verdadeira concepção a ser adotada tinha suas implicações. Quer dizer, eles precisavam corrigir os próprios caminhos como já foi dito acima, 7.3. Em seguida não deveriam confiar em lorotas infundadas, como disse o profeta: “Não vos fieis em palavras falsas”. É por meio desse confronto que o profeta desmistifica essa tal teologia, chamada pelo Pr. Claudionor  de Andrade chama de “teologia do templo”, isto é, uma corrente e falsa concepção daquele tempo. Pois a simples repetição daquelas palavras não mudariam a situação deles diante de Deus e da proximidade do que estava para acontecer, 7.4. Eles deveriam sim, era arrepender dos seus pecados e voltarem-se para Deus. A solução era esta e não prestarem mais atenção nas falsas pregações, que traziam  falsas esperanças. Hoje mais do que nunca devemos retornar para Deus e sua Palavra com um coração inteiro, o Senhor Jesus Cristo deve ser o centro das nossas vidas. Em tudo Ele deve ser participante.


IV. A LIÇÃO DE SILÓ

1.      Siló, um antítipo.

Jeremias retoma o assunto do templo no verso 12 para contra-argumentar a falsa concepção deles. E em nome do Senhor lembra-lhes o que Ele fez com aquele antigo centro de adoração, em Siló, que ficava no território da tribo de Efraim, foi o lugar de adoração em Israel no tempo dos juízes. Siló foi, portanto, o lugar do Tabernáculo do Senhor, para onde muitos faziam suas peregrinações. Ali também residia a familia sacerdotal de Eli. Foi por causa das guerras entre Israel e os filisteus, que o lugar ficou devastado, o tabernáculo saqueado, indo também a arca do Senhor parar no templo de Dagom na cidade de Asdode dos filisteus, 1Sm 4 e 5. Assim como Deus fez a Siló, por causa da maldade naqueles tempos, faria agora a Jerusalém e ao Templo junto com a sua arca, 7.12-14. Vede que Deus não se prende a símbolos, templos, organizações e nações, mas a sua própria Palavra.

2.      Efraim um antítipo

Deus amplia sua Palavra de castigo afirmando que o que fez a Efraim, faria também a eles. Essa era uma palavra profética duríssima e difícil de pronunciar. Mas Jeremias não vacilou. Deus não queria que o coração do povo estivesse na cidade terrenal de Jerusalém, nem no Templo, mas nele que os havia assentado ali. Vede que o orgulho do povo seria quebrantado, o povo seria definitiva e completamente atirado para fora da presença de Deus, 7.15. As chamas da ira de Deus se tornam incandescentes quando o povo diz que lhe serve, mas anda no pecado. Um pouco de Javé e um pouco de Baal, um pouco de Jerusalém e um pouco de Tofete, uma boa porção da Palavra de Deus outra boa porção da falsa profecia e desviada teologia. Deus não se agrada de meio cristão. Ouça o que diz o Mestre: “porque és morno e nem és quente nem frio, estou a ponto de vomitar-te da minha boca” Ap 3.16.


3.      O Comportamento reprovável, vv.27-28.

Mesmo de diante das palavras proféticas, das argumentações e das duríssimas ameaças, a população se comportou reprovavelmente. Ninguém nada falava, nada ouvia, não houve resposta e nem tampouco aceitaram a correção. Tamanha foi a indiferença! Jeremias para eles era apenas um falador sem crédito, um profeta até poético, mas louco. O povo estava mui seguro de si mesmo, arrogante suas concepções, firmes em suas falsas razões que continuaram a viver da mesma maneira. Portanto, para Deus eles já tinham perecido.


CONCLUSÃO

A Palavra de Deus deve ser anunciada ousadamente, seja para cristãos ou não cristãos. Pois o compromisso dos servos de Deus é com Ele acima de tudo. Entretanto, não devemos pensar que ninguém nos ouve, pois sempre alguém nos ouvirá, esse é um ângulo da questão. O outro é pensar que todos nos ouvem atentamente e aceitam a nossa mensagem, isso é plenamente possível. Mas devemos encarar a questão com equilíbrio. Talvez o nosso maior inimigo seja o nosso sucesso, nossas vitórias e boa aceitação. Na verdade meu maior inimigo sou eu mesmo, com a sede de aceitação do auditório, com a ardente cobiça pelo reconhecimento público. Enquanto que Jeremias, Ezequiel e o Senhor Jesus foram desprezados por causa da sua mensagem.
Outro perigo é nos afastarmos da teologia essencialmente bíblica, por de lado a hermenêutica literal, onde a Bíblia por si mesma se interpreta e tem um só sentido, e fazermos as coisas meramente por prazer próprio sem oração. Não devemos gastar tempo com nulidades, vãs filosofias ou teologias que nada nos acrescentarão, como aqueles homens fizeram. Antes devemos banir toda e qualquer mensagem imbecil, positivista que tente nos seduzir.


VOCABULÁRIO

Inclusiva: Que inclue, que abrange.
Simonia: Venda ilícita das coisas sagradas.
Ortopraxia: Correção mecânica de deformações.
Positivismo: Tendência para encarar a vida só pelo lado prático e útil.
Amuleto: Qualquer objeto que se traz na persuasão ser válido contra malefícios ou desgraças.
Depositário: Aquele que recebe em depósito.
Fetiche: Objeto enfeitiçado, feitiço.
Desmistificar: Livrar ou tirar da mistificação.

REFERÊNCIA BIBLIOGRAFICA

Sociedade Bíblica do Brasil. 1995; 2005. Almeida Revista e Corrigida. Sociedade Bíblica do Brasil
·         Sociedade Bíblica do Brasil. 2002; 2005. Bíblia de Estudo Almeida - Revista e Corrigida. Sociedade Bíblica do Brasil
·         Sociedade Bíblica do Brasil. 2003; 2005. Almeida Revista e Atualizada - Com Números de Strong. Sociedade Bíblica do Brasil
·         Strong, J., & Sociedade Bíblica do Brasil. 2002; 2005. Léxico Hebraico, Aramaico e Grego de Strong. Sociedade Bíblica do Brasil
·         Dicionário Prático Michaelis
·         Dicionário Aurélio



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