sábado, 2 de março de 2013

VOCACIONADO EM TEMPO DE CRISE



"Mas o Senhor me disse: Não digas: Eu sou uma criança; porque, aonde quer que eu te enviar, irás; e tudo quanto te mandar dirás." (Jeremias 1:7)

INTRODUÇÃO

Os tempos haviam mudado em Judá, havia uma expectativa positiva nos círculos proféticos. E cada profeta falava segundo a sua intuição e não segundo a Palavra revelada de Deus. A calamidade sorrateiramente se aproximava e o povo com seus líderes não se apercebiam disso. Deus precisava de um homem que se dispusesse a ser um verdadeiro profeta. Pois, um genuíno profeta, fala o que Deus quer. Não o que o povo deseja ouvir. Jeremias era esse homem que Deus preparava e dava de presente para seu povo em Judá. Ele era um vidente de Deus com uma visão diferente da humana, pois como águia voa alto e vê muito além, assim foi Jeremias à frente dos da sua geração. Um homem de íntima comunhão com Deus, fiel a sua chamada e capaz de trazer esperança a sua nação, ainda que incompreendido e humilhado. Deixemos nos inspirar pela sua profunda comunhão com Deus, e que sua fidelidade e ardor profético seja um instrumento do Espírito Santo para incendiar o nosso coração.

I.    O CENÁRIO HISTÓRICO NA ÉPOCA DE JEREMIAS

1.    Israel em seu aspecto político.

Jeremias nasceu em uma ocasião que Judá era uma monarquia, também denominada Reino do Sul, cuja linhagem de reis era descendentes de Davi. A Assíria como Império dominou toda a região do Oriente Médio, destruindo a Israel, o reino do Norte, cuja capital era Samaria. Mas a Assíria tendo tombado como potência, o Egito e Babilônia procuraram logo ocupar esse espaço. Nessa época quem reinava, era o reformador Rei Josias. Que se opondo a Faraó Neco morreu em batalha. Foi também nessa época que o Egito quiz expandir seus domínios até o Eufrates, mas foi contido por Babilônia, que lhe impôs severa derrota na famosa batalha de Carquemis. Obrigando assim os Egípcios retornarem aos seus termos. Judá ficou um tanto dividido quanto a quem servir como tributário, preferindo ficar erroneamente com o Egito. Apesar das palavras proféticas de Jeremias.

2.    Israel em seu aspecto religioso.

A reforma religiosa trazida a Israel por meio de Josias, rei de Judá. Não foi suficiente para conter toda a aprofundada influência idolátrica de Manassés e Amon, seu sucessor. Jeremias foi chamado ao ministério profético por Deus na ocasião dessa reforma, melhor no fim dela, pois a mesma não pôde ser concluída. Não há como saber a idade de Jeremias quando chamado poderia ser menino, adolescente ou jovem. Era um tempo de dispensação profética, mas esses profetas estavam politicamente comprometidos com o sistema político, de maneira que ainda que eles fossem cheios de boa intenção e sinceridade, de verdade Deus não falava através deles. E foi com a influência deles junto ao rei que Israel veio a esfarcelar-se aos pés da Babilônia.

3.    A origem sacerdotal de Jeremias.

Pelo exposto acima fica claro que Jeremias nasceu em tempos difíceis. Pois foi um tempo que o reino se encontrou instável por causa da política internacional. Foi um momento que a reforma religiosa apesar de ter sido conduzida por Josias durante vários anos, somente teve um empenho significativo, e sistemático depois de achada uma cópia da Lei Mosaica por Hilquias, na casa do Senhor Deus.
Mas onde ele nasceu? Na cidade de Anatote, aproximadamente uns seis quilômetros de Jerusalém, em terra que ficava na tribo de Benjamim, mas destinada por Lei aos sacerdotes. Portanto, tudo nos leva crer que Jeremias era filho de sacerdote.


II.    A VOCAÇÃO DE JEREMIAS

1.    Chamado jovem para o ministério.
Não há como saber a idade de Jeremias por ocasião do seu chamado divino ao ministério profético. O certo é que ele olhava para si mesmo e não se achava suficientemente capaz e maduro, mas apenas uma criança. Entretanto o Senhor Javé o retorquiu, “não digas eu sou uma criança”. Evidentemente que o jovem chamado se sentia incapaz para enfrentar um ministério a nível nacional e internacional. Pois assim disse o Senhor: “Olha, ponho-te neste dia sobre as nações e reinos...”, Jr 1.10. Embora Jeremias olhasse para si mesmo e se visse como uma criança, Deus o via como alguém plenamente responsável e confiável para exercer tal ministério. O que fica para os mais jovens hoje um grande estímulo, pois o Senhor é soberano para chamar a quem quiser. Independente de sua idade.

2.    A incapacidade de Jeremias.
Embora Jeremias se achasse muito jovem para o exercício do ministério profético, o que para ele era um impedimento, Deus não via assim. O certo é que ele temeu pela sua segurança, pelo sofrimento e desprezo que sofreria durante o exercício do mesmo. Nessa época havia profetas que tinham acesso ao rei, prestígio por causa de sua profecia e conselhos bem sucedidos. Eram também pessoas bem mais velhas que poderiam colocar em risco a sua segurança. Parece que num relance tudo isso veio à mente do jovem Jeremias. Mas Deus não via esses homens assim, Deus não queria homens vendidos, com conceitos preconcebidos de governo e simpáticos ao rei, nem antipáticos é claro. Mas simples e fiéis para aquele momento difícil que se aproximava, tudo isso Deus achou no jovem Jeremias.

3.    Uma questão de autoridade reconhecida.
O propósito principal do exercício profético é captar a vontade de Deus para um momento específico, receber e transmitir a sua vontade para aquela situação, e por fim influir na consciência, atitude social, comportamento religioso a nível local ou internacional. O profeta consegue enxergar o que as pessoas não vêem, pois Deus o conectou ao mundo espiritual. Deus disponibiliza uma fração da sua onisciência para que este vidente enxergue o futuro na ótica divina e traga direção, proteção, provisão e livramento ao seu povo. Por isso a maioria das vezes é incompreendido, pois muitas vezes o profeta quebra paradigmas existentes em seu tempo. Jeremias sabia que tudo isso estava envolvido, e teria que enfrentar os veteranos e precisava de um respaldo para esse exercício com autoridade. Havia um código que legislava neste particular, foi por isso que Deus lhe deu uma visão maravilhosa da amendoeira que falaremos mais adiante.

III. ASPECTOS ENCORAJADORES DA CHAMADA PROFÉTICA

1.    Deus chama diretamente, Jr 1.2,4.
O Senhor Javé não impede que seus servos desejem qualquer ministério, seja profético, evangelístico ou mesmo político. Não há qualquer sensura neste particular em toda a Bíblia Sagrada. Porém, fica claro que às vezes ele vocaciona de forma especial a algumas pessoas dirigindo-se a elas diretamente. Acrecento, por meio de sonho, visão ou profecia do ministério. Essa pode ser mesmo uma chamada pré-natalícia, “antes que eu te formasse no ventre te conheci... e às nações te dei por profeta”, Jr 1.5. Sem dúvida este é um aspecto surpreendentemente encorajador para quem o recebe, mas fica implícito também o nível e grau de responsabilidade perante o Ente Divino. Cabe uma nota aqui, nem todos os grandes servos de Deus tiveram uma chamada como Jeremias, Isaías ou Paulo no caminho de Damasco, mas estão atuando dentro de uma visão grandiosa no reino de Deus. Portanto, com cada um Deus age de uma maneira, vai depender principalmente do coração do vocacionado e nível da chamada.

2.    Deus encoraja, Jr 1.6-8.

Muitas vezes o servo de Deus olha para suas incapacidades, impurezas, limitações e perseguições futuras. Mas Deus não recua na sua Palavra e chamado, mesmo que este apresente a Ele motivos para não aceitar o encargo. Tal como Jeremias, “Senhor, eu sou uma criança”; ou como Moisés, “Senhor sou pesado de língua, envia outro no meu lugar”, ou ainda como Isaías, “Ai de mim que vou perecendo... sou um homem de lábios impuros”. Deus não é tomado de surpresa, mas para cada um tem uma palavra de encorajamento, nem que seja em forma de ordem como foi com Jeremias: “aonde quer que eu te enviar, irás; e tudo quanto te mandar dirás”.  

3.    Deus capacita, Jr 1.9-12.

A maioria das desculpas com respeito a aparentes incapacidades são na verdade quadros mentais falsos escondidos em nós mesmos. Ora, Deus só chama alguém porque vê que ele é capaz de realizar o seu chamado, a sua obra. Caso falte alguma coisa o Senhor completa, se for estímulo ele dá. Por exemplo para Jeremias a mão do Senhor tocou-lhe na boca, Jr 1.9; no caso de Moisés transformou a sua vara em serpente, Ex 2.1-4; para Isaías Deus enviou um serafim a tocá-lo na boca com uma brasa do altar, Is 6.6-7; para Pedro o Senhor mandou-lhe lançar a rede do lado direito do barco, ao apanhar tantos peixes, em terra prostrado e tremendo disse, “Senhor ausenta-te de mim que sou homem pecador”. Como se para Jeremias fosse pouco que o Senhor lhe tocasse na boca, deu-lhe uma maravilhosa, visão que confirmava a sua autoridade profética: “Que é que vês, Jeremias? E eu disse: Vejo uma vara de amendoeira. E disse-me o Senhor: Viste bem; porque eu velo sobre a minha palavra para a cumprir”, Jr 1.11-12.



IV. O CELIBATO DE JEREMIAS

O permanente estado de celibato (solteiro) de Jeremias foi uma ordem e orientação divina, Jr 16.1-2. Não uma escolha sua ou falta de opção de com quem se casar. Quando Deus assim lhe ordenou explicou-lhe claramente o motivo: filhos, filhas e mães morreriam de dolorosas doenças naquele lugar por causa do pecado daquela geração, Jr 16.3-4. Mas quem sabe, se tivesse se casado seus oponentes poderiam tornar sua família vítima de represálias machucando profundamente o seu coração e sentimentos. Hoje entendemos também perfeitamente que as pestes são consequências das guerras, pois com a falta de suprimento decai a qualidade de vida vertiginosamente, gerando todo tipo de praga. Hoje em dia quase não há esclarecimento acerca desse assunto, isto é, pessoas cuja orientação deve ser para permanecerem solteiras por um desígnio divino. Porém tais orientações estão estampadas na Bíblia, pois se trata de uma chamada preciosa e muito especial por parte do Senhor, 1Co 7.25-38. Se bem que há aqueles que o fazem voluntariamente como um voto a Deus, o que não estão impedidos de fazê-lo, mas se isso acontecer devem se esforçar para cumpri-lo, caso contrário melhor não fazer um voto assim.


V. A POSTURA PROFÉTICA DE JEREMIAS

Jeremias procedeu com a maturidade de um profeta de primeira grandeza, que de fato ele foi. Alguns ao verem o ministério profético de Jesus afirmaram, que Ele era Jeremias, Mt 16.14. Tal foi a grandeza de Jeremias! Este profeta não estava interessado em aceitação pessoal, mas a rejeição de sua mensagem lhe levava às lágrimas, pois ele via por antecipação o fogo abrasador do juízo de Deus sobre aquela geração. Não buscava popularidade, nem se auto-afirmar como um profeta e chegou mesmo a pensar e abandonar o ministério profético por um tempo. Mas o seu amor pelo Senhor e pelo seu obstinado povo era tão grande que abandonou a idéia de abandonar sua vocação profética, Jr 20.9. Quantos profetas estão se auto-afirmando em seu próprio carisma, estão sedentos de aceitação pessoal, pois seu interior não está sarado. Utilizam-se do dom de Deus para autopromoção e descaradamente profetizam mentiras trazendo frustração para muitos. São pessoas que precisam de tratamento do Senhor, de arrependimento e cura. Infelizmente os verdadeiros profetas sofrem rejeição, calúnias e maus-tratos. Por outro lado como Jesus, aprendem a perdoar e ganham resistência para prosseguir.

CONCLUSÃO

O tempo em que Jeremias foi chamado ao ministério profético, eram desafiadores por ser um tempo de nova definição política internacional que afetaria diretamente a vida dos judeus. Mesmo assim ele permaneceu fiel a Deus como um homem temente a Javé, em sua conduta e ministério profético. O seu nível de compromisso com Deus e o amor a seu povo tornaram-no o profeta da Esperança naqueles tempos difíceis. Apesar de demonstrar ser uma pessoa sofrida e sentimental, sempre avançou na sua chamada. Demonstrou um grande domínio próprio não se casando sob as ordens de Deus, e a sua postura profética foi tão exemplar que atravessa séculos chegando aos nossos dias. 

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