"Mas o Senhor me disse: Não
digas: Eu sou uma criança; porque, aonde quer que eu te enviar, irás; e tudo
quanto te mandar dirás." (Jeremias 1:7)
INTRODUÇÃO
Os tempos haviam mudado em Judá, havia
uma expectativa positiva nos círculos proféticos. E cada profeta falava segundo
a sua intuição e não segundo a Palavra revelada de Deus. A calamidade
sorrateiramente se aproximava e o povo com seus líderes não se apercebiam
disso. Deus precisava de um homem que se dispusesse a ser um verdadeiro
profeta. Pois, um genuíno profeta, fala o que Deus quer. Não o que o povo
deseja ouvir. Jeremias era esse homem que Deus preparava e dava de presente
para seu povo em Judá. Ele era um vidente de Deus com uma visão diferente da
humana, pois como águia voa alto e vê muito além, assim foi Jeremias à frente
dos da sua geração. Um homem de íntima comunhão com Deus, fiel a sua chamada e capaz
de trazer esperança a sua nação, ainda que incompreendido e humilhado. Deixemos
nos inspirar pela sua profunda comunhão com Deus, e que sua fidelidade e ardor
profético seja um instrumento do Espírito Santo para incendiar o nosso coração.
I. O
CENÁRIO HISTÓRICO NA ÉPOCA DE JEREMIAS
1. Israel
em seu aspecto político.
Jeremias nasceu em uma ocasião que
Judá era uma monarquia, também denominada Reino do Sul, cuja linhagem de reis era
descendentes de Davi. A Assíria como Império dominou toda a região do Oriente
Médio, destruindo a Israel, o reino do Norte, cuja capital era Samaria. Mas a
Assíria tendo tombado como potência, o Egito e Babilônia procuraram logo ocupar
esse espaço. Nessa época quem reinava, era o reformador Rei Josias. Que se
opondo a Faraó Neco morreu em batalha. Foi também nessa época que o Egito quiz
expandir seus domínios até o Eufrates, mas foi contido por Babilônia, que lhe
impôs severa derrota na famosa batalha de Carquemis. Obrigando assim os
Egípcios retornarem aos seus termos. Judá ficou um tanto dividido quanto a quem
servir como tributário, preferindo ficar erroneamente com o Egito. Apesar das
palavras proféticas de Jeremias.
2.
Israel em seu aspecto religioso.
A reforma religiosa trazida a Israel
por meio de Josias, rei de Judá. Não foi suficiente para conter toda a
aprofundada influência idolátrica de Manassés e Amon, seu sucessor. Jeremias
foi chamado ao ministério profético por Deus na ocasião dessa reforma, melhor
no fim dela, pois a mesma não pôde ser concluída. Não há como saber a idade de
Jeremias quando chamado poderia ser menino, adolescente ou jovem. Era um tempo
de dispensação profética, mas esses profetas estavam politicamente
comprometidos com o sistema político, de maneira que ainda que eles fossem
cheios de boa intenção e sinceridade, de verdade Deus não falava através deles.
E foi com a influência deles junto ao rei que Israel veio a esfarcelar-se aos
pés da Babilônia.
3.
A origem sacerdotal de Jeremias.
Pelo exposto acima fica claro que
Jeremias nasceu em tempos difíceis. Pois foi um tempo que o reino se encontrou
instável por causa da política internacional. Foi um momento que a reforma
religiosa apesar de ter sido conduzida por Josias durante vários anos, somente
teve um empenho significativo, e sistemático depois de achada uma cópia da Lei Mosaica
por Hilquias, na casa do Senhor Deus.
Mas onde ele nasceu? Na cidade de
Anatote, aproximadamente uns seis quilômetros de Jerusalém, em terra que ficava
na tribo de Benjamim, mas destinada por Lei aos sacerdotes. Portanto, tudo nos
leva crer que Jeremias era filho de sacerdote.
II. A VOCAÇÃO DE JEREMIAS
1.
Chamado jovem para o ministério.
Não há como saber a
idade de Jeremias por ocasião do seu chamado divino ao ministério profético. O
certo é que ele olhava para si mesmo e não se achava suficientemente capaz e
maduro, mas apenas uma criança. Entretanto o Senhor Javé o retorquiu, “não
digas eu sou uma criança”. Evidentemente que o jovem chamado se sentia incapaz
para enfrentar um ministério a nível nacional e internacional. Pois assim disse
o Senhor: “Olha, ponho-te neste dia sobre as nações e reinos...”, Jr 1.10.
Embora Jeremias olhasse para si mesmo e se visse como uma criança, Deus o via
como alguém plenamente responsável e confiável para exercer tal ministério. O
que fica para os mais jovens hoje um grande estímulo, pois o Senhor é soberano
para chamar a quem quiser. Independente de sua idade.
2.
A incapacidade de Jeremias.
Embora Jeremias se
achasse muito jovem para o exercício do ministério profético, o que para ele
era um impedimento, Deus não via assim. O certo é que ele temeu pela sua
segurança, pelo sofrimento e desprezo que sofreria durante o exercício do
mesmo. Nessa época havia profetas que tinham acesso ao rei, prestígio por causa
de sua profecia e conselhos bem sucedidos. Eram também pessoas bem mais velhas
que poderiam colocar em risco a sua segurança. Parece que num relance tudo isso
veio à mente do jovem Jeremias. Mas Deus não via esses homens assim, Deus não
queria homens vendidos, com conceitos preconcebidos de governo e simpáticos ao
rei, nem antipáticos é claro. Mas simples e fiéis para aquele momento difícil
que se aproximava, tudo isso Deus achou no jovem Jeremias.
3.
Uma questão de autoridade reconhecida.
O propósito principal
do exercício profético é captar a vontade de Deus para um momento específico,
receber e transmitir a sua vontade para aquela situação, e por fim influir na consciência,
atitude social, comportamento religioso a nível local ou internacional. O
profeta consegue enxergar o que as pessoas não vêem, pois Deus o conectou ao
mundo espiritual. Deus disponibiliza uma fração da sua onisciência para que
este vidente enxergue o futuro na ótica divina e traga direção, proteção,
provisão e livramento ao seu povo. Por isso a maioria das vezes é
incompreendido, pois muitas vezes o profeta quebra paradigmas existentes em seu
tempo. Jeremias sabia que tudo isso estava envolvido, e teria que enfrentar os
veteranos e precisava de um respaldo para esse exercício com autoridade. Havia
um código que legislava neste particular, foi por isso que Deus lhe deu uma
visão maravilhosa da amendoeira que falaremos mais adiante.
III.
ASPECTOS ENCORAJADORES DA CHAMADA PROFÉTICA
1.
Deus chama
diretamente, Jr 1.2,4.
O Senhor Javé não impede que seus servos desejem qualquer
ministério, seja profético, evangelístico ou mesmo político. Não há qualquer
sensura neste particular em toda a Bíblia Sagrada. Porém, fica claro que às vezes
ele vocaciona de forma especial a algumas pessoas dirigindo-se a elas
diretamente. Acrecento, por meio de sonho, visão ou profecia do ministério.
Essa pode ser mesmo uma chamada pré-natalícia, “antes que eu te formasse no
ventre te conheci... e às nações te dei por profeta”, Jr 1.5.
Sem dúvida este é um aspecto surpreendentemente encorajador para quem o recebe,
mas fica implícito também o nível e grau de responsabilidade perante o Ente
Divino. Cabe uma nota aqui, nem todos os grandes servos de Deus tiveram uma
chamada como Jeremias, Isaías ou Paulo no caminho de Damasco, mas estão atuando
dentro de uma visão grandiosa no reino de Deus. Portanto, com cada um Deus age
de uma maneira, vai depender principalmente do coração do vocacionado e nível
da chamada.
2. Deus encoraja, Jr 1.6-8.
Muitas vezes o servo de Deus olha para suas
incapacidades, impurezas, limitações e perseguições futuras. Mas Deus não recua
na sua Palavra e chamado, mesmo que este apresente a Ele motivos para não
aceitar o encargo. Tal como Jeremias, “Senhor, eu sou uma criança”; ou como
Moisés, “Senhor sou pesado de língua, envia outro no meu lugar”, ou ainda como
Isaías, “Ai de mim que vou perecendo... sou um homem de lábios impuros”. Deus
não é tomado de surpresa, mas para cada um tem uma palavra de encorajamento,
nem que seja em forma de ordem como foi com Jeremias: “aonde quer
que eu te enviar, irás; e tudo quanto te mandar dirás”.
3. Deus capacita, Jr 1.9-12.
A maioria das desculpas com respeito a
aparentes incapacidades são na verdade quadros mentais falsos escondidos em nós
mesmos. Ora, Deus só chama alguém porque vê que ele é capaz de realizar o seu
chamado, a sua obra. Caso falte alguma coisa o Senhor completa, se for estímulo
ele dá. Por exemplo para Jeremias a mão do Senhor tocou-lhe na boca, Jr 1.9; no
caso de Moisés transformou a sua vara em serpente, Ex 2.1-4; para Isaías Deus
enviou um serafim a tocá-lo na boca com uma brasa do altar, Is 6.6-7; para
Pedro o Senhor mandou-lhe lançar a rede do lado direito do barco, ao apanhar
tantos peixes, em terra prostrado e tremendo disse, “Senhor ausenta-te de mim
que sou homem pecador”. Como se para Jeremias fosse pouco que o Senhor lhe
tocasse na boca, deu-lhe uma maravilhosa, visão que confirmava a sua autoridade
profética: “Que é que vês, Jeremias? E eu disse: Vejo uma vara de
amendoeira. E disse-me o Senhor: Viste
bem; porque eu velo sobre a minha palavra para a cumprir”, Jr 1.11-12.
IV.
O CELIBATO DE JEREMIAS
O permanente estado de celibato
(solteiro) de Jeremias foi uma ordem e orientação divina, Jr 16.1-2. Não uma
escolha sua ou falta de opção de com quem se casar. Quando Deus assim lhe
ordenou explicou-lhe claramente o motivo: filhos, filhas e mães morreriam de
dolorosas doenças naquele lugar por causa do pecado daquela geração, Jr 16.3-4.
Mas quem sabe, se tivesse se casado seus oponentes poderiam tornar sua família
vítima de represálias machucando profundamente o seu coração e sentimentos. Hoje
entendemos também perfeitamente que as pestes são consequências das guerras,
pois com a falta de suprimento decai a qualidade de vida vertiginosamente,
gerando todo tipo de praga. Hoje em dia quase não há esclarecimento acerca
desse assunto, isto é, pessoas cuja orientação deve ser para permanecerem
solteiras por um desígnio divino. Porém tais orientações estão estampadas na
Bíblia, pois se trata de uma chamada preciosa e muito especial por parte do
Senhor, 1Co 7.25-38. Se bem que há aqueles que o fazem voluntariamente como um
voto a Deus, o que não estão impedidos de fazê-lo, mas se isso acontecer devem
se esforçar para cumpri-lo, caso contrário melhor não fazer um voto assim.
V.
A POSTURA PROFÉTICA DE JEREMIAS
Jeremias procedeu com a maturidade de
um profeta de primeira grandeza, que de fato ele foi. Alguns ao verem o ministério
profético de Jesus afirmaram, que Ele era Jeremias, Mt 16.14. Tal foi a
grandeza de Jeremias! Este profeta não estava interessado em aceitação pessoal,
mas a rejeição de sua mensagem lhe levava às lágrimas, pois ele via por
antecipação o fogo abrasador do juízo de Deus sobre aquela geração. Não buscava
popularidade, nem se auto-afirmar como um profeta e chegou mesmo a pensar e
abandonar o ministério profético por um tempo. Mas o seu amor pelo Senhor e
pelo seu obstinado povo era tão grande que abandonou a idéia de abandonar sua
vocação profética, Jr 20.9. Quantos profetas estão se auto-afirmando em seu próprio
carisma, estão sedentos de aceitação pessoal, pois seu interior não está
sarado. Utilizam-se do dom de Deus para autopromoção e descaradamente
profetizam mentiras trazendo frustração para muitos. São pessoas que precisam
de tratamento do Senhor, de arrependimento e cura. Infelizmente os verdadeiros
profetas sofrem rejeição, calúnias e maus-tratos. Por outro lado como Jesus,
aprendem a perdoar e ganham resistência para prosseguir.
CONCLUSÃO
O tempo em que Jeremias foi chamado ao
ministério profético, eram desafiadores por ser um tempo de nova definição
política internacional que afetaria diretamente a vida dos judeus. Mesmo assim
ele permaneceu fiel a Deus como um homem temente a Javé, em sua conduta e
ministério profético. O seu nível de compromisso com Deus e o amor a seu povo
tornaram-no o profeta da Esperança naqueles tempos difíceis. Apesar de
demonstrar ser uma pessoa sofrida e sentimental, sempre avançou na sua chamada.
Demonstrou um grande domínio próprio não se casando sob as ordens de Deus, e a
sua postura profética foi tão exemplar que atravessa séculos chegando aos
nossos dias.
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