Ef 5:18 - E não vos embriagueis com vinho, em que há contenda, mas
enchei-vos do Espírito;
Nos tempos de Jesus Cristo e de Paulo havia um problema
muito comum, a embriaguez. Entre os pagãos era prática corrente reunirem-se em
ocasiões festivas ou no culto a Baco (grego) ou Dionísio (latino), o deus do
vinho. Essas reuniões eram encontros licenciosos em que havia orgias. Entre os
romanos em seus festins o vinho era diluído em água conforme o ânimo dos
festejadores. Pois alguns convidados ficavam tão completamente embriagados que
estrupavam as criadas ali mesmo.
Pela dimensão de Eféso, a segunda maior cidade do Imperio
Romano depois de Roma, provavelmente essas coisas aconteciam com frequência.
Daí o mandamento “não vos embriagueis com vinho”. É claro que com qualquer
outra coisa também. Mas porque essa recomendação? Por causa do que ela
produzia, i.e., as contendas. Pensemos por um pouco, uma ancila sendo estrupada
por um dos convidados, aquilo em algum momento trazia contendas e brigas. Não
era um ambiente assim que Deus gostaria que fosse reproduzido, afinal aquela
era uma assembléia cristã.
A palavra asotia que é traduzida como contenda (ARC Fiel), e
como dissolução (ARA) o seu sentido vai bem mais além do que contenda.
Significa vida dissoluta, perversão de costumes, vida descontrolada,
devassidão, desperdício, prodigalidade. E também, aquilo que se dissolve,
dissolvência. A asotia não reflete a vontade de Deus e nem glorifica o seu
nome, pois ela apenas dissolve e prodigaliza a vida.
Ao contrário disso, os cristãos deveriam ser cheios do
Espírito Santo. Paulo não explica o que isso é, e daí se concluir que aqueles
crentes já sabiam o que era ser cheio do Espírito Santo. A ideia de ser cheio
do Espírito procede da promessa do derramamento do Espírito Santo em Joel, Jl
2.28,29; At 2.14-18. Havia alguma semelhança entre o ser cheio do Espírito
Santo e o estar embriagado, pois no dia de Pentecostes os discípulos foram
confundidos com bêbados, Ef 2.13.
A grande diferença entre os crentes cheios do Espírito e os
ébrios dos festins de Baco está no resultado. O resultado dos festins estava na
dissolução, contendas e prodigalidade que aqueles encontros produziam. Enquanto
que nas festas cristãs chamadas de [1]festas
de caridade (ágape - 2Pe 2.13; Jd 12.), o resultado era a respeitabilidade
entre os irmãos. E, sobretudo, a capacidade de reproduzir Jesus por meio da
vida deles.
Nos banquetes de amor os crentes comiam, bebiam e cultuavam
a Deus e depois ficavam cheios de vigor espiritual. É claro que houve momento
em que, por exemplo, na igreja de Corinto os crentes foram repreendidos pela
desorganização, exclusivismo e embriaguez de alguns, 1Co 11.17-21. Porém o
propósito era que fossem cheios do Espírito para que pudessem reproduzir Jesus.
Ou melhor, que Jesus vivesse através deles. Posto que o Espírito Santo não fale
e nem testifica de si mesmo, porém de Jesus Cristo. Logo quem está cheio do
Espírito, está cheio de Cristo, Jo 15.26-27; 16.12-15.
[1] Os
banquetes de amor não duraram muito na Igreja, foram até o século VI quando por
meio de concílios foram eliminados. Sobre o assunto consulte: White, James F. Introdução ao Culto Cristão. São Leopoldo – RS. Editora Sinodal.
1997.p.180.