sexta-feira, 27 de julho de 2012

ENCHAM-SE DO ESPÍRITO DE DEUS



Ef 5:18 - E não vos embriagueis com vinho, em que há contenda, mas enchei-vos do Espírito;

Nos tempos de Jesus Cristo e de Paulo havia um problema muito comum, a embriaguez. Entre os pagãos era prática corrente reunirem-se em ocasiões festivas ou no culto a Baco (grego) ou Dionísio (latino), o deus do vinho. Essas reuniões eram encontros licenciosos em que havia orgias. Entre os romanos em seus festins o vinho era diluído em água conforme o ânimo dos festejadores. Pois alguns convidados ficavam tão completamente embriagados que estrupavam as criadas ali mesmo.
Pela dimensão de Eféso, a segunda maior cidade do Imperio Romano depois de Roma, provavelmente essas coisas aconteciam com frequência. Daí o mandamento “não vos embriagueis com vinho”. É claro que com qualquer outra coisa também. Mas porque essa recomendação? Por causa do que ela produzia, i.e., as contendas. Pensemos por um pouco, uma ancila sendo estrupada por um dos convidados, aquilo em algum momento trazia contendas e brigas. Não era um ambiente assim que Deus gostaria que fosse reproduzido, afinal aquela era uma assembléia cristã.
A palavra asotia que é traduzida como contenda (ARC Fiel), e como dissolução (ARA) o seu sentido vai bem mais além do que contenda. Significa vida dissoluta, perversão de costumes, vida descontrolada, devassidão, desperdício, prodigalidade. E também, aquilo que se dissolve, dissolvência. A asotia não reflete a vontade de Deus e nem glorifica o seu nome, pois ela apenas dissolve e prodigaliza a vida.
Ao contrário disso, os cristãos deveriam ser cheios do Espírito Santo. Paulo não explica o que isso é, e daí se concluir que aqueles crentes já sabiam o que era ser cheio do Espírito Santo. A ideia de ser cheio do Espírito procede da promessa do derramamento do Espírito Santo em Joel, Jl 2.28,29; At 2.14-18. Havia alguma semelhança entre o ser cheio do Espírito Santo e o estar embriagado, pois no dia de Pentecostes os discípulos foram confundidos com bêbados, Ef 2.13.
A grande diferença entre os crentes cheios do Espírito e os ébrios dos festins de Baco está no resultado. O resultado dos festins estava na dissolução, contendas e prodigalidade que aqueles encontros produziam. Enquanto que nas festas cristãs chamadas de [1]festas de caridade (ágape - 2Pe 2.13; Jd 12.), o resultado era a respeitabilidade entre os irmãos. E, sobretudo, a capacidade de reproduzir Jesus por meio da vida deles. 
Nos banquetes de amor os crentes comiam, bebiam e cultuavam a Deus e depois ficavam cheios de vigor espiritual. É claro que houve momento em que, por exemplo, na igreja de Corinto os crentes foram repreendidos pela desorganização, exclusivismo e embriaguez de alguns, 1Co 11.17-21. Porém o propósito era que fossem cheios do Espírito para que pudessem reproduzir Jesus. Ou melhor, que Jesus vivesse através deles. Posto que o Espírito Santo não fale e nem testifica de si mesmo, porém de Jesus Cristo. Logo quem está cheio do Espírito, está cheio de Cristo, Jo 15.26-27; 16.12-15.




[1] Os banquetes de amor não duraram muito na Igreja, foram até o século VI quando por meio de concílios foram eliminados. Sobre o assunto consulte: White, James F. Introdução ao Culto Cristão. São Leopoldo – RS. Editora Sinodal. 1997.p.180.

O PLANETA MARÉ EM PERIGO! (Sátira a pornofonia)


O PLANETA MARÉ EM PERIGO!
(Sátira a pornofonia)



Certa vez desceu uma nave espacial no planeta Maré. Este planeta durante algum tempo foi muito agitado por causa das disputas de quem mandaria nele. Mas depois de um tempo, seus habitantes se organizaram e encontraram o caminho da tranquilidade.
Quando a nave chegou de um outro planeta, de bem longe, do espaço sideral, foi uma grande novidade para os seus habitantes mareenses, pois assim se chamavam. Os ets, extra-mareenses, provaram serem inofensivos e amistosos em pouco tempo. Eles trouxeram consigo um aparelho “extrator subliminar de energia”. Esse aparelho produzia luzes com lindas cores que admirava a todos os que podiam vê-las. Também, simultaneamente, saía do aparelho um som extasiante acompanhado de uma fumaça verde que maravilhava quem o ouvia.
Porém os habitantes do planeta Maré não percebiam o embuste daquele maravilhoso aparelho. Ele que causava tanto prazer ao verem a luz, a fumaça e os sons de dois tipos: [1]forronorreia e funkkokos. Esses sons injetavam nos mareenses uma substância que hipnotizava alguns, que passaram a ter perda de consciência e agir como zumbis. Os outros mareenses perdiam as energias e logo morriam, pois já tinham algum tipo de fraqueza congênita.
Os que não curtiam aquele tipo de som preocupava os ets da espaçonave, apesar destes também surtirem o efeito maléfico: não tinham ânimo para trabalhar. Ficavam irritadiços e passaram a não se entender em família pela deficiência da falta de energia que era sugada deles, como um tipo de anemia ou dengue.
Alguns mareenses não convictos da amizade dos extra-mareenses, os observaram cada vez mais felizes enquanto seus conterrâneos enfraqueciam, morriam e não se entendiam mais em família. Foi aí que eles criaram uma comissão para examinar o caso mais de perto. Assim fizeram exames e pesquisas e concluíram que o problema fora trazido pelos extra-mareenses com o seu aparelho “extrator subliminar de energia”, que produzia luzes coloridas e sons de  forronorreia e funkkokos.
Desta maneira resolveram banir os extra-mareenses com sua espaçonave. Mas como havia muitos zumbis mareenses tiveram certa dificuldade, pois eles defendiam os ets. Todavia, isso só aconteceu até perceberem que os zumbis não tinham direitos de exercer sua cidadania mareense. Pois estavam legalmente incapazes pela doença dos sons que causavam certa letargia e depravação.
Assim a comissão especial de mareenses baniu os extra-mareenses desordeiros, mas cuidaram dos doentes até os curarem a todos e tudo voltar ao normal.  O que ficou de positivo, porém dos ets, foi que os mareenses criaram uma comissão de artes musicais que não contaminavam os habitantes do Planeta Maré e a felicidade voltou com o respeito mútuo a todos.


Crônicas de um habitante do Planeta Maré,
R.B.P.


[1] Tipo de sons doentios, letárgicos, imundos, depravados.

quarta-feira, 25 de julho de 2012

ENTENDAM O QUE DEUS QUER DE VOCÊS


Ef 5:17 - Por isso não sejais insensatos, mas entendei qual seja a vontade do Senhor.
 
   
S
erá que entendemos o que Deus quer para as nossas vidas? Caso não entendamos, onde ou de que maneira poderemos alcançar esse entendimento? Vejamos como Paulo trata desse assunto e orienta os cristãos Efésios e a Igreja em geral.
Utilizando-se de uma linguagem com pares opositivos no texto acima, o insensato se opõe aquele que tem entendimento ou compreensão. O insensato é aquele que falta senso, razão, inteligência; o sensato ou o que compreende é aquele que tem bom senso, judicioso. Paulo usa os termos “insensatos” e “entendei” referindo-se a vontade de Deus.
A vontade de Deus é um assunto constante nas Cartas Paulinas. Dentre as citações sobre a expressão vontade de Deus há duas coisas que queremos destacar. A primeira, o texto bíblico em apreço, e também o de Romanos 12.2. 
Paulo ao expressar aos crentes, “entendei qual seja a vontade do Senhor”, significa que, a vontade de Deus pode ser entendida. Porque Deus quer que ela seja entendida, para que também ela seja praticada. Contudo, está implícito que a vontade de Deus pode não ser compreendida ou mesmo ser ignorada. Mas quando é que alguém não entende a vontade de Deus para sua vida? Existem algumas coisas a considerar e isso sem levar em conta os descrentes, em cujas mentes não se ocupam dessa questão.
O não entendimento ou ignorância quanto à vontade de Deus está ligada ao deixar de fazer ou cumprir alguma coisa necessária. De acordo com o pensamento sobre o assunto no Novo Testamento, pode-se verificar que o não entendimento da vontade Deus está ligado: A falta de oração, a influência do mundanismo no coração, ao não estar cheio do Espírito Santo. Também a negligência da santificação, a falta de adoração individual e coletiva como um sacrifício vivo. E finalmente, a falta de constantes ações de graças, Ef 5.18-21.
A vontade de Deus para os crentes sinceros não é uma possibilidade apenas, eles estão além disso. Pois entendem que a vontade de Deus é uma experiência a ser vivida a cada dia, e também nas grandes decisões e situações da vida. A vontade de Deus para os cristãos originais não está num campo hipotético, e sim num campo experimental e concreto de modo conclusivo. Isso é tão sério que deve ser levado em oração diariamente, Mt 6.10,13; Lc 11.2. E é a partir desse aspecto devocional que a vontade de Deus será experimentada, Paulo trata disso de uma forma mais detalhada e profunda.
Segundo o Apóstolo Paulo, a vontade de Deus é não só para ser entendida, mas também para ser experimentada (dokimazo). Dokimazo significa testar, examinar, provar, verificar se alguma coisa é genuína ou não, como se faz com metais. Mas também pode se reconhecer como genuíno depois de examinar, aprovar ou julgar valioso. Nesse ponto há certo cientificismo religioso. Quero dizer que, a prática da vontade de Deus conduzirá a pessoa à satisfação de uma necessidade legítima da alma. E isso Paulo fala de modo magistral: “boa, agradável e perfeita vontade de Deus, Rm 12.1-2”. Cf. também, Cl 4.12; 1Ts 4.3; 2Tm 3.16-17.
Com o acima exposto fica claro que podemos provar a vontade de Deus como quem prova um vinho. Ou como quem avalia a preciosidade de determinado metal. Essa experiência não acontecerá através das ciências matemáticas, físicas, astronômicas, etc. Porém será legítima quando houver algum tipo de obediência a Deus. Por exemplo, de acordo com Paulo por meio de uma entrega como sacrifício vivo no altar de Deus. Vejamos um pouco mais cuidadosamente.
Essa entrega vai acontecer na casa de Deus, através da adoração coletiva. Alguém inicialmente de modo isolado pode começar a experimentar a vontade de Deus, mas solitário e desacompanhado ninguém irá avante. Pois o propósito de Deus é Ele mesmo nos completar através da comunhão com os outros simultaneamente. Salvo em alguns casos raros, é apenas na casa de Deus que podemos levar a nossa oferta e entregar-nos como oferta no altar de Deus.
É verdade que precisamos buscar de modo individual, pois os verdadeiros adoradores adorarão ao Pai em espírito e em verdade, Jo 4.23.  Inicialmente, Ele nos abençoará assim. Porém é essencial que a prática espiritual, no pensamento paulino, está sempre no plural e no coletivo. Observe como Paulo orienta a maneira de entender e experimentar a vontade de Deus:
1) Evitando certos pecados coletivos, ou seja, santificando-se: “não vos embriagueis com vinho, no qual há dissolução”, Ef 5.18.
2) Buscando uma vida cheia do Espírito coletivamente: “enchei-vos do Espírito”, Ef 5.18b.
3) Adorando e louvando a Deus na coletividade: “Falando entre vós com salmos, entoando e louvando de coração ao Senhor com hinos e cânticos espirituais”, Ef 5.19.
4) Sendo agradecidos a Deus por tudo individual e na casa de Deus: “dando sempre graças por tudo a nosso Deus e Pai, em nome de nosso Senhor Jesus Cristo”, Ef 5.20.
5) Ter uma convivência resignada com temor: “sujeitando-vos uns aos outros no temor de Cristo”, Ef 5.21.

Concluímos que a vontade Deus é para ser buscada e isso numa atitude individual e coletiva. Inicialmente, de alguma forma é possível começar a praticá-la só. A prática cristã, porém, só acontecerá de fato no convívio com os outros irmãos. Eles têm o que nos completa, o entendimento e a experiência cristã que nos falta. E nós individualmente completamos a eles também o que lhes falta em alguma coisa. Se bem que em algum momento nem sempre isso será possível. O que precisamos, portanto é termos uma convivência resignada para que continuemos a agregar valor as nossas vidas e a dos outros também. Principalmente, no que tange a renovação de nossa mente (Rm 12.1-12). Pois ela só acontecerá mediante a convivência no Corpo de Cristo e através de uma boa leitura.





quinta-feira, 19 de julho de 2012

ELEMENTOS GERADORES DA HARMONIA NA IGREJA E FAMÍLIA


COMO BUSCAR A HARMONIA - III




Ef 5:2 - E andai em amor, como também Cristo vos amou, e se entregou a si mesmo por nós, em oferta e sacrifício a Deus, em cheiro suave.

Precisamos de elementos supremos que nos inspire o coração e que nos interiorize o amor verdadeiro, o amor de Cristo Jesus. Não é suficiente entender que se precisa da harmonia congregacional e familiar. Nem é suficiente saber que o principal elemento gerador dessa harmonia é o amor. É necessário andar na prática constante dele. Como o trocar dos passos numa caminhada, como um exercício constante que é o próprio andar.
Esses elementos supremos que nos inspiram o coração, que nos interiorizam o amor de Deus são os elementos geradores da harmonia. Eles se dividem em três aspectos abordados no texto paulino: 1) mandamento prático, “andai em amor”; 2) Em que se baseia esse amor, “como também Cristo vos amou, e se entregou a si mesmo por nós”; 3) De que maneira ele nos amou, “e se entregou... em oferta e sacrifício a Deus, em cheiro suave”. Agora vejamos um pouco de cada um desses elementos.
O mandamento prático “andai em amor” não é coisa totalmente nova. Na Lei Mosaica já se determinava: “amarás o teu próximo como a ti mesmo”. O sucesso do relacionamento entre os indivíduos hebreus dependeria da observância desse princípio. A própria grandeza da nação se estabeleceria por meio da prática da Lei que se resume no amor. Esse é o elemento agregador dos cristãos, Jo 17.21. O sucesso do Corpo de Cristo e a sua grandeza no mundo seriam conhecidos através do amor, Jo 13.35; At 4.32-35.
Para os judeus não havia novidade em tal mandamento, posto que a Lei se resuma no amor. Porém, a grande novidade e diferença se encontram no eixo sobre o qual esse amor deve existir e se movimentar. E esse eixo é “como também Cristo vos amou, e se entregou a si mesmo por nós”, Ef 5.2; Jo 15.12-13. Observe que antes o eixo era, amarás o próximo como a ti mesmo, mas agora o eixo desse amor é amarás o próximo ou uns aos outros como eu vos amei, Jo 13.34; 15.12,13. Esse amor não é teórico e sim totalmente prático, mas diferentemente da Lei, os servos de Deus tem um exemplo supremo hoje. O exemplo de Cristo que existiu entre nós e se entregou por toda a posteridade humana. Tanto para ser-lhes um exemplo, como para conceder-lhes salvação.
O amor que devemos viver é, portanto, baseado no exemplo de entrega de Jesus Cristo. Mas não apenas isso, pois Paulo vai um pouco mais além entrando em detalhes de como foi essa entrega. A entrega do Mestre é um modelo do amor que devemos desenvolver em nossas igrejas e famílias. Ela consistiu numa oferta e sacrifício a Deus em cheiro suave, como se fazia no templo de Jerusalém diariamente. A igreja cristã, o Corpo de Cristo, se relaciona com Deus, o que alguns estudiosos chamam de relacionamento vertical. E também se relaciona entre si, denominado de relacionamento horizontal. O grande ensinamento de Jesus e de Paulo é que mesmo no relacionamento horizontal, ele deve ser uma oferenda a Deus em cheiro suave.
O amor da igreja é o amor de Cristo não apenas direcionado a Deus, mas entre os indivíduos que a compõem. O amor da igreja entre os indivíduos embora seja uma relação social, deve ser encarada como uma oferta a Deus. Esse amor é e será expresso de diferentes maneiras, através da esperança, da tolerância, da bondade, da gentileza, etc. Contudo, energizado pelo poder e presença do Espírito Santo. Haveria menos ou nenhuma queixa se os membros do Corpo de Cristo andassem em comunhão mais efetiva com o Espírito. Se aprendessem que nossos relacionamentos não devem apenas ser considerados um sacrifício em prol dos outros, ainda que seja. Mas, sobretudo um sacrifício destinado a Deus.
Enfim, esses elementos que geram vida e harmonia no Corpo de Cristo devem ser engrenagens que jamais param. São como pernas que não devem parar nunca, para que a igreja local ou geral jamais se atrofie. A estagnação dessas engrenagens representaria a parada desse maquinário vivo no âmbito local. Isso representaria a perda da salinização tornando-a inútil em seu papel no mundo. Deus nos guarde disso em seu amor.

terça-feira, 17 de julho de 2012

COMO BUSCAR A HARMONIA NA CASA DE DEUS E NA FAMÍLIA - II



A ARTE DE MIMETIZAR O PAI CELESTIAL

Ef 5:1 - Sede, pois, imitadores de Deus, como filhos amados;

Sem sair da temática de como buscar a harmonia congregacional, o escrito paulino prossegue. Ele fala agora da necessidade de imitar a Deus, a partir do modelo que Ele é. Essa imitação ou mimetização de Deus se dá ou dará através das atitudes demonstradas ao longo da experiência cristã. Os crentes devem se tornar de modo consciente mimetizadores de Deus. E esse pensamento paulino, além do texto em apreço, é encontrado em várias partes das suas cartas, mas apresentado de forma diferente.
A palavra usada por Paulo no grego para imitadores é mimetai. Temos em português procedente do grego a palavra mimesis (imitar) e também mimetizar (mania de imitação, adquirir por mimetismo ou camuflar-se). Para que a mimetização aconteça se faz necessário partir de um exemplo, um modelo que deve ser primeiramente interiorizado. Esse modelo de que trata Paulo está numa relação de paternidade e filiação, algo bem de família. Nesse modelo, Deus é o Pai digno de ser mimetizado, imitado e copiado.
Todo o filho deseja e imita a seus pais naturalmente, alguns vestem as suas roupas, calçam seus sapatos. Alguns meninos, por exemplo, gostam de usar “escondido” o barbeador do pai passando-o no rosto. As meninas usam a maquiagem das mães, etc. Enfim, os pais se divertem quando presenciam coisas assim de seus filhos. Esse princípio mimetizador não chega a gerar harmonia em casa, mas é divertido. Porém na família cristã, na assembléia dos santos muito contribui, pois mimetizar a Deus gera e sustenta a harmonia.
Para que haja imitação do Pai celestial os indivíduos têm que nascer na sua família. Paulo está dizendo imperativamente que os irmãos tragam a existência o ato de imitar, mas uma imitação do caráter divino. O caráter divino se expressa numa relação de santidade e amor, para as quais fomos eleitos, Ef 1.3. Para isso foi que fomos predestinados como filhos (huios), Ef 1.4. Mas quanto à mimetização há pequena diferença no pensamento, pois ele diz “filhos amados – tékna agapetá”. E os tékna são filhos gerados diretamente por Deus através da fé em Jesus Cristo.
No pensamento antigo os filhos gerados na família e no convívio mimetizarão naturalmente os pais. Ao passo que os que foram inseridos por adoção não farão isso tão eficientemente, principalmente, dependendo da idade com a qual foram adotados. A igreja cristã deve ser um ambiente que expressa o caráter do Pai em santidade e amor, para que os filhos se desenvolvam com esse perfil. É lamentável por frequentemente vermos o contrário nas congregações locais.
O sentimento a ser desenvolvido no coração dos filhos: é o de significado – eles representam muito para a família; é o de cuidado – eles precisam de alimentação, roupas, educação, segurança, etc.; atenção e carinho – eles precisam de que se brinque com eles, e que eles tenham o afago apropriado; correção e tolerância – eles precisam que demonstremos paciência, cumplicidade, e correção nos seus aprendizados e falhas. Isso tudo ilustra o padrão que a igreja local e geral deve adotar, perseguir e viver para que os filhos de Deus sejam sadios.
Quando um filho é negligenciado, desprezado, maltratado e rejeitado em família o que acontecerá? Ele não terá prazer de pertencer àquela família, não terá força para lutar por sua família e facilmente a rejeitará. Isso envolve aspectos presente e futuro numa pessoa. É algo muito corrente que o tráfico e o crime são alimentados por pessoas procedentes de lares desajustados. A igreja não pode ser um lar assim, e sim ser uma casa de amor que reflete o caráter de seu Pai e Líder eterno.
Por outro lado, todos os cristãos devem se voltar para o que as Escrituras dizem acerca do amor eterno de Deus. Devem eles se sentir amados através do amor de Cristo que excede todo o entendimento. Devem eles se inspirar e imitarem esse amor, mas isso só acontecerá mediante a interiorização do amor divino primeiramente. Assim poderão mimetizar a Deus eficientemente.
Agora vejamos o que Paulo diz de como se ter uma igreja harmônica, no artigo seguinte.

COMO BUSCAR A HARMONIA NA CASA DE DEUS E NA FAMÍLIA - I




Ef 4:32 - [1]Antes sede uns para com os outros benignos, misericordiosos, perdoando-vos uns aos outros, como também Deus vos perdoou em Cristo.

Duas coisas devem acontecer simultaneamente, tanto à retirada de coisas que enfraquecem a unidade da igreja. Quanto o cultivo de virtudes que fortalecem a convivência dos cristãos. A patir de Efésios 4.32 até 5.2 o autor aponta quais virtudes ajudarão a cumprir esse propósito e orienta a que ponham em prática.
Sede benignos (gr. [2]chrestos). “Antes sede” é um contraponto a atitude anteriormente citada da malícia, Ef 4.31. Ou seja, que tirem de dentro do convívio da assembléia cristã toda maldade. E, ao contrário disso sejam benignos, chrestos como acima apontada. Essa palavra tem um primeiro significado de ser útil, de servir ao próximo. Ao invés de reagir com ira, arquitetar maldades ou agir com maledicência, que venha proceder de forma útil.
Visto que, essa é a maneira mais eficaz de acabar com o mal estar no convívio, devolvendo o mal com a benignidade. Assim devem os irmãos proceder uns com os outros: Como José que perdoa seus irmãos e lhes faz bem no Egito, apesar de procederem mal com ele.  Como profeta Oséias que retoma Gomer de volta, como esposa para o seu convívio. Como o Pai do Filho pródigo que perdoa e recebe seu filho de volta, etc.
Sede misericordiosos (eusplagchnos). O ser misericordioso ou compassivo é um contraponto a atitude de amargura ou até mesmo de ira. Pois são atitudes emocionais negativas que quando não resolvidas, imediatamente, devastam os vínculos fraternos e familiares. O termo “eusplagchnoi” denota uma atitude interior nobre. E significa ter entranhas fortes visto que para os gregos o centro das emoções residia nas entranhas, mas também representa ter um bom coração.
De acordo com o grego essa virtude a ser demonstrada está no plural “eusplagchnoi”. Isso significa que os crentes deveriam ter entre si, e cada um per si, um bom coração a demonstrar. Capaz de lidar com o próximo, tolerar e perdoar as fraquezas e ofensas alheias. Encontramos exemplos desse entranhável sentimento no Senhor que perdoou o servo, Mt 18.27. Em Jesus tomado de íntima compaixão curando o leproso, Mc 1.41. E no bom samaritano que se compadeceu do homem abandonado para morrer no caminho, Lc 10.33, etc.
Sede perdoadores. A vida cristã é uma experiência direta com a graça de Deus. O maravilhoso favor de Deus alcançou e banhou os cristãos perdoando suas faltas, ofensas, etc. Deus nos perdoou para vivermos em harmonia com Ele e entre nós, os membros do Corpo de Cristo. Assim como Ele foi liberal conosco, assim como nos perdoou em Cristo, nós devemos perdoar ao nosso próximo também.
A palavra carizomai significa outorgar um favor de forma incondicional. Isso se refere tanto a um ato divino como temos recebido de Deus, quanto a um ato humano também[3]. Ninguém tem o direito de negar perdão a ninguém, pois que fomos graciosamente perdoados. Na verdade quando temos uma dimensão da grandeza de nossas faltas. Quão horríveis eram os nossos próprios pecados. Do lamaçal em que nossos pés se encontravam e fomos perdoados, encontramos forças para perdoar.






[1] Bíblia Corrigida Almeida Fiel. Sociedade Bíblica Trinitariana. São Paulo – SP. [s.a].
[2] As palavras em grego nestes artigos são extraídas da: STRONG, J., & Sociedade Bíblica do Brasil. 2002; 2005. Léxico Hebraico, Aramaico e Grego de Strong. Sociedade Bíblica do Brasil.
[3] Conceito, mormente trabalhado no: VINE, W. E. Vine, Diccionario Expositivo de Palavras Del Antiguo y Del Nuevo Testamento Exhaustivo. Caribe. Editorial Caribe. 1999. Verbete: Conceder, Concesión.