O
que significa empoderamento? É isso que trataremos a seguir. Falaremos do
conceito secular de modo resumido, e também da aplicabilidade do termo segundo
a visão cristã paulina. Esse trabalho tem como finalidade ser um devocional, um
estudo bíblico, um desafiar a igreja cristã mostrar quem realmente ela é. Na
verdade o presente trabalho tem uma abordagem multifacetada a partir do texto
da Carta aos Efésios. Não visa competir, substituir ou se superestimar em
relação aos outros comentários bíblicos. Procura dentro do possível interpretar
o texto sagrado visando uma aplicabilidade à realidade presente.
Empoderamento
é uma palavra que a partir do inglês (empowerment), significa o desenvolvimento
de uma consciência social dos direitos sociais. Ela vai além da iniciativa
individual de conhecimento e superação de uma realidade em que se encontra.
Pode-se dizer que é a consciência de uma cidadania que procura atingir o
aspecto individual e coletivo. Observando-se o princípio de alteridade, quer
dizer, de se colocar no lugar do outro, de um agir interdependente do outro.
O
termo empoderamento você não vai encontrá-lo na Bíblia, mas o seu conceito está
presente ali. Visto que a organização social judaica tinha como princípio de
vida o amor a Deus e ao próximo, Dt 6.5; Lv 19.18. Toda a base jurídica judaica
está firmada sobre a base do amor, e tanto Jesus quanto Paulo confirmam isso,
Mt 22.35-40; Rm 13.9-10. É claro que esse amor é o resumo de todas as virtudes
que o compõe, conforme são demonstradas por Paulo em 1Co 13.1-13.
Se
do ponto de vista secular o empoderamento trata-se do desenvolvimento de uma
consciência atrelada aos direitos sociais. Do ponto de vista cristão é, porém o
desenvolvimento de uma consciência da própria cidadania que vai além da
terrena. É o desenvolvimento da consciência de cidadania celestial, pois o
cristão crê na vida além-túmulo. Essa cidadania celestial é desenvolvida tanto
no aspecto do indivíduo quanto no coletivo, pois elas acontecem simultaneamente
como toda sociedade normal.
Diferentemente
do empoderamento secular em que a consciência de cidadania pode ser ou será
dessacralizada em muitas sociedades. O empoderamento cristão tem como base a
Bíblia Sagrada, mas destaca-se a palavra de Jesus Cristo e dos seus apóstolos.
Posto que eles sejam os fomentadores de toda a doutrina cristã, 1Co 3.10-11; Ef
2.20; 4.11-13. Assim que a Igreja nasceu e foi se desenvolvendo houve a
necessidade de se trabalhar uma identidade que expressasse o Cristo
ressuscitado.
Ela,
porém desenvolveu-se sob constante perseguição e por esse motivo, a necessidade
do ensino também a distância por meio das cartas. Paulo foi o pioneiro nessa
estratégia em relação às igrejas que tinha fundado na Ásia Menor e na Europa.
Deixando-nos um importante legado que opera o cultivo e a consolidação da
identidade cristã.
A
identidade cristã tem uma estreita relação com o amor fraterno como já foi dito
acima, mas também com o poder de Deus. Esse poder que opera no universo, também
opera no interior dos crentes efésios e dos crentes em geral. Mas também é o
mesmo que ressuscitou a Jesus Cristo dentre os mortos pondo-o acima de todo o
principado e potestade, poder e domínio. Paulo não apenas conscientiza os
crentes quem são agora mediante o conhecimento do que são em Cristo. Como também
intercede por eles para que sejam fortalecidos, empoderados mediante o Espírito
Santo no homem interior. E nessa oração ele retoma o conceito específico de
amor, todavia falando do amor de Cristo, que é a base da identidade cristã, Ef
3.16-18.
Cabe
dizer aqui que esse amor não é uma alienação
(no sentido negativo) como alguns imaginam – alheação. Pois o amor é o
envolvimento, um doar-se inteligente, a busca pelo bem estar alheio e pessoal.
Alienação vem do latim (alienationis) que significa transmissão do direito,
abandono, é estar alheio. Do ponto de vista político a alienação consiste no
desinteresse por questões políticas ou sociais. Porém não é o que tem
acontecido entre os cristãos católicos, protestantes e evangélicos, visto que
se tem demonstrado uma preocupação com questões sensíveis à coletividade. Como
por exemplo: A luta contra o aborto, contra o uso antiético e discriminado das
células tronco, questões de gênero tem feito parte das discussões nos templos e
lares, etc.
Esse
envolvimento com questões políticas e sociais acontece pelo nobre desejo do bem
estar comum. Pastores, mestres bíblicos e políticos cristãos tem-se engajado
nas lutas descritas acima, não meramente para “mostrarem que são do contra”.
Mas assim tem procedido porque além da consciência individual há a consciência
coletiva de se existir no mundo. Que é tão transitória e crucial diante daquele
de quem teremos que prestar contas, e também da nossa posteridade que herdará o
nosso legado seja ele qual for.
O
amor ensinado por Jesus e Paulo trás consigo um compromisso com a justiça, a
decência e a santidade. A busca pelo bem estar geral, isto é, o nosso e o
alheio. Não há nenhuma instituição no Brasil e no mundo que contribua mais para
a sociedade pós-moderna do que a igreja cristã. Seja no combate a pobreza, ou
na recuperação de dependentes químicos, na devolução de indivíduos
ex-criminosos à sociedade, uma vez recuperados, etc.
Esse
posicionamento cristão contraria o que Karl Marx (1818-1883), como crítico
religioso disse acerca da alienação religiosa em seu tempo. Ou seja, que a
alienação é “em contraposição ao seu mundo de infelicidade bem e terrena o
homem cria um mundo de felicidade ilusória – os Céus – que acaba por adormecer
a sua capacidade de transformação do existente; a religião é, assim, e segundo
a expressão de Marx, o ‘ópio do povo’” *. Tal posicionamento pode caber em
alguma situação isolada, mas a Igreja cristã em geral é consciente de sua
atuação no mundo como a expressão da praxis da sua fé. Somente participará do
reino de Cristo aquele que tiver buscado viver em santidade e buscar o bem
alheio, Mt 25.35,36.
O
empoderamento cristão é, portanto uma identidade formada a partir do amor que o
mundo espera ver, e que Deus deseja manifestar. E que como cristãos individuais
e coletivamente falando se faz necessário que essa identidade se manifeste de
fato. A Igreja cristã foi deixada no mundo para amar e para amar é que ela no
mundo permanece. Só assim combateremos as ideologias da dessacralização e da
mundanidade vazia. De que maneira? Através do extraordinário, invencível,
obstinado e eterno amor de Deus.
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SERRA, Joaquim Mateus Paulo. Alienação - Colecção:
Artigos LUSOSOFIA. Covilhã, 2008. p.9
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