sexta-feira, 13 de dezembro de 2013

O que significa empoderamento?



O que significa empoderamento? É isso que trataremos a seguir. Falaremos do conceito secular de modo resumido, e também da aplicabilidade do termo segundo a visão cristã paulina. Esse trabalho tem como finalidade ser um devocional, um estudo bíblico, um desafiar a igreja cristã mostrar quem realmente ela é. Na verdade o presente trabalho tem uma abordagem multifacetada a partir do texto da Carta aos Efésios. Não visa competir, substituir ou se superestimar em relação aos outros comentários bíblicos. Procura dentro do possível interpretar o texto sagrado visando uma aplicabilidade à realidade presente.
Empoderamento é uma palavra que a partir do inglês (empowerment), significa o desenvolvimento de uma consciência social dos direitos sociais. Ela vai além da iniciativa individual de conhecimento e superação de uma realidade em que se encontra. Pode-se dizer que é a consciência de uma cidadania que procura atingir o aspecto individual e coletivo. Observando-se o princípio de alteridade, quer dizer, de se colocar no lugar do outro, de um agir interdependente do outro.
O termo empoderamento você não vai encontrá-lo na Bíblia, mas o seu conceito está presente ali. Visto que a organização social judaica tinha como princípio de vida o amor a Deus e ao próximo, Dt 6.5; Lv 19.18. Toda a base jurídica judaica está firmada sobre a base do amor, e tanto Jesus quanto Paulo confirmam isso, Mt 22.35-40; Rm 13.9-10. É claro que esse amor é o resumo de todas as virtudes que o compõe, conforme são demonstradas por Paulo em 1Co 13.1-13.
Se do ponto de vista secular o empoderamento trata-se do desenvolvimento de uma consciência atrelada aos direitos sociais. Do ponto de vista cristão é, porém o desenvolvimento de uma consciência da própria cidadania que vai além da terrena. É o desenvolvimento da consciência de cidadania celestial, pois o cristão crê na vida além-túmulo. Essa cidadania celestial é desenvolvida tanto no aspecto do indivíduo quanto no coletivo, pois elas acontecem simultaneamente como toda sociedade normal.
Diferentemente do empoderamento secular em que a consciência de cidadania pode ser ou será dessacralizada em muitas sociedades. O empoderamento cristão tem como base a Bíblia Sagrada, mas destaca-se a palavra de Jesus Cristo e dos seus apóstolos. Posto que eles sejam os fomentadores de toda a doutrina cristã, 1Co 3.10-11; Ef 2.20; 4.11-13. Assim que a Igreja nasceu e foi se desenvolvendo houve a necessidade de se trabalhar uma identidade que expressasse o Cristo ressuscitado.
Ela, porém desenvolveu-se sob constante perseguição e por esse motivo, a necessidade do ensino também a distância por meio das cartas. Paulo foi o pioneiro nessa estratégia em relação às igrejas que tinha fundado na Ásia Menor e na Europa. Deixando-nos um importante legado que opera o cultivo e a consolidação da identidade cristã.
A identidade cristã tem uma estreita relação com o amor fraterno como já foi dito acima, mas também com o poder de Deus. Esse poder que opera no universo, também opera no interior dos crentes efésios e dos crentes em geral. Mas também é o mesmo que ressuscitou a Jesus Cristo dentre os mortos pondo-o acima de todo o principado e potestade, poder e domínio. Paulo não apenas conscientiza os crentes quem são agora mediante o conhecimento do que são em Cristo. Como também intercede por eles para que sejam fortalecidos, empoderados mediante o Espírito Santo no homem interior. E nessa oração ele retoma o conceito específico de amor, todavia falando do amor de Cristo, que é a base da identidade cristã, Ef 3.16-18.
Cabe dizer aqui que esse amor não é uma alienação (no sentido negativo) como alguns imaginam – alheação. Pois o amor é o envolvimento, um doar-se inteligente, a busca pelo bem estar alheio e pessoal. Alienação vem do latim (alienationis) que significa transmissão do direito, abandono, é estar alheio. Do ponto de vista político a alienação consiste no desinteresse por questões políticas ou sociais. Porém não é o que tem acontecido entre os cristãos católicos, protestantes e evangélicos, visto que se tem demonstrado uma preocupação com questões sensíveis à coletividade. Como por exemplo: A luta contra o aborto, contra o uso antiético e discriminado das células tronco, questões de gênero tem feito parte das discussões nos templos e lares, etc.
Esse envolvimento com questões políticas e sociais acontece pelo nobre desejo do bem estar comum. Pastores, mestres bíblicos e políticos cristãos tem-se engajado nas lutas descritas acima, não meramente para “mostrarem que são do contra”. Mas assim tem procedido porque além da consciência individual há a consciência coletiva de se existir no mundo. Que é tão transitória e crucial diante daquele de quem teremos que prestar contas, e também da nossa posteridade que herdará o nosso legado seja ele qual for.
O amor ensinado por Jesus e Paulo trás consigo um compromisso com a justiça, a decência e a santidade. A busca pelo bem estar geral, isto é, o nosso e o alheio. Não há nenhuma instituição no Brasil e no mundo que contribua mais para a sociedade pós-moderna do que a igreja cristã. Seja no combate a pobreza, ou na recuperação de dependentes químicos, na devolução de indivíduos ex-criminosos à sociedade, uma vez recuperados, etc.
Esse posicionamento cristão contraria o que Karl Marx (1818-1883), como crítico religioso disse acerca da alienação religiosa em seu tempo. Ou seja, que a alienação é “em contraposição ao seu mundo de infelicidade bem e terrena o homem cria um mundo de felicidade ilusória – os Céus – que acaba por adormecer a sua capacidade de transformação do existente; a religião é, assim, e segundo a expressão de Marx, o ‘ópio do povo’” *. Tal posicionamento pode caber em alguma situação isolada, mas a Igreja cristã em geral é consciente de sua atuação no mundo como a expressão da praxis da sua fé. Somente participará do reino de Cristo aquele que tiver buscado viver em santidade e buscar o bem alheio, Mt 25.35,36.

O empoderamento cristão é, portanto uma identidade formada a partir do amor que o mundo espera ver, e que Deus deseja manifestar. E que como cristãos individuais e coletivamente falando se faz necessário que essa identidade se manifeste de fato. A Igreja cristã foi deixada no mundo para amar e para amar é que ela no mundo permanece. Só assim combateremos as ideologias da dessacralização e da mundanidade vazia. De que maneira? Através do extraordinário, invencível, obstinado e eterno amor de Deus.
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SERRA, Joaquim Mateus Paulo. Alienação - Colecção: Artigos LUSOSOFIA. Covilhã, 2008. p.9


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